segunda-feira, 25 de abril de 2011

Por las calles de Toledo

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- Por las calles de Toledo -  


Calle de Toledo por Tati Supertramp





Depois de muitos dias ausente, estudando o território, vivendo coisas, sentindo falta de outras, comparando algumas... Cá estou! E ainda me pergunto por onde devo começar, uma vez que cada vez que eu penso as palavras já começam a ser um problema para ser escritas em português já que preciso pensar em língua espanhola 24 horas do meu dia.
Bem, por onde começar... Por onde começar? Já sei... Antes de tudo Madrid! O pós vôo!


Bem como a maioria das pessoas sabe, e agora as que ainda não sabiam, eu cheguei viva obviamente a Madrid, e a cidade é realmente fantástica, um show de informações visuais, uma mais bela que a outra, com muitas fontes e parques verdes agora na primavera, pessoas lendo, casais, famílias... O lugar na primavera é cheio de vida, isso eu preciso dizer.


E a noite? Madrid é uma cidade que quase nunca dorme, onde se podem passar horas andando de bar em bar, alguns muitos parecidos, outros muito diferentes, com gente de todo quanto é canto do mundo, chineses, espanhóis, franceses, italianos, portugueses... E até brasileiros! Afinal estamos em todos os lugares, realmente! E essa mistura toda é encantadora, cheia de charme. Pessoas de todos os lugares, conversando e rindo como uma grande família mundial, interagindo e conversando com desconhecidos, como se fossem velhos amigos, ou irmãos... É realmente encantador!
Mas depois de dois dias foi preciso me despedir de Madrid, com uma promessa de volta, para conhecer um pouquinho mais, e com sorte ver o tão esperado quadro de Picasso, Guernica.


Isso me põe agora em Toledo. Toledo La Dulce Toledo! Creio que essa seja a expressão que melhor define o sentimento apaixonante que tomou conta de mim no momento que coloquei os meus pés em Toledo. Muitas pessoas haviam me dito que Toledo era uma cidade muito bonita, que era ótima, que eu iria gostar muito e tudo mais... Mas a verdade é que só eu mesma consigo entender o que senti ao chegar a Toledo.


Posso dizer que gosto muito do Brasil, e é encantador em todos os sentidos, mas o que eu amo no Brasil, são as pessoas que aí vivem e fazem parte da minha vida, essa é a grande verdade, não amo o Brasil, mas sim as pessoas que conheço e que o habitam. Mas com Toledo é diferente, é uma paixão pelo lugar, pela cidade, por todas as ruas pequeninas, repletas de cultura, religião, e um brilho antigo inexplicável, que ganha charme e conforto com a primavera, enchendo as janelas e as ruas de flores.


Durante muitos dias mesmo com um mapa, me perdi pelas ruas, que nos primeiros dias me pareciam todas iguais, mas que depois ganhavam em minha mente uma aparência única.


Mas porque falar só da cidade? Preciso também falar do que passei a chamar de casa por aqui, um pouquinho da Universidade e tudo mais.


O apartamento onde moro é a casa de mais três pessoas, uma inglesa de Londres, Lottie, que está aqui atualmente dando aulas de inglês em uma escola, um espanhol, José Luis, fisioterapeuta com seu próprio consultório, muito ocupado na maior parte do tempo e por fim, e não menos importante, uma espanhola, Mar, que é médica, e dedica-se todos os dias de corpo e alma a profissão. E com sorte, às vezes no final do dia, nos encontramos todos como uma família, minha terceira família (afinal a minha segunda família é a família do Rafa), e jantamos juntos, do jeitinho espanhol. Essa família vai deixar muita saudade quando eu voltar ao Brasil, não é todo dia que encontramos uma casa com árvore de natal o ano todo como a minha no Brasil.



A Universidade... Ah, a Universidade!
Universidad de Castilla – La Mancha, La Faculdade de Ciências Ambientales conhecida também como a Antiga Fábrica de Armas, é simplesmente maravilhosa na primavera… Sei que pode soar um pouco repetitivo isso, mas é realmente assim, os estudantes passam muito tempo entre as aulas, sentados nos gramados, conversando e comendo os famosos bocadillos de todos os sabores e mais um pouco, tomando café e aproveitando o glorioso sol e calor que vem com a primavera aqui na região.


Como diz o próprio Juan Carlos (meu orientador aqui), nosso laboratório é como o banheiro de um avião, é pequeno, mas tem absolutamente de tudo... Hehe. Somos uma equipe de três pessoas, Salomé, uma espanhola com a minha idade mais ou menos, Andrea, um italiano muito simpático e concentrado em suas análises, e eu, uma brasileira que trabalhou a vida toda em laboratório com ecotoxicologia aquática, e agora está se metendo um pouquinho na parte terrestre, estudando minhocas e solos. Só uma breve observação, essa pra uma pessoa em especial: Du, logo faço o post que você pediu de ecotoxicologia para leigos.


As horas aqui passam bem rápido, e cada dia eu descubro um caminho que me leva a um lugar novo. Já vou à universidade tranquilamente sem me perder, aprendi também a andar por umas ruas daqui com umas lojinhas bem legais, ir ao mercado é bem fácil e perto de casa, e o lugar que conheci há pouco tempo, mas que já se tornou mais do que querido também, é a biblioteca, e claro que eu já fiz uma carteirinha pro poder retirar livros, filmes, e CDs que fazem parte do incrível acervo que a biblioteca possui.


Toledo, La Dulce Toledo me recebeu de braços abertos, faz com que me sinta cada dia mais em casa e cheia de cultura, tem muitos cheiros e sabores diferentes, tem muitas cores e pessoas diferentes, mas acima de tudo, tem muito encanto.

E, além disso, estou aprendendo um monte de receitas novas e sabores novos, e aprimorando cada vez mais minhas tostadas de café da manhã, com huevos e tomate, afinal logo chega o Rafael por aqui, e ele precisa ter a honra de experimentar a versão final, hehe com café madrileño.



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Comentários:

Engraçado você dizer que já está sentindo dificuldades em escrever textos em português. A gente que nunca passou pela mesma experiência que você não atina pra esse detalhe de ter que viver a maior parte do tempo falando e pensando em outra língua, e dos efeitos disto em nossa própria forma de elaborar pensamentos. A capacidade que temos de nos adaptar a situações como esta é fascinante, se paramos pra pensar. Dito isto, só me resta admitir que sinto inveja do contato com tamanha carga de cultura que você vem tendo por aí. Deve ser um baita choque cultural e sensorial andar por uma cidade tão rica de um país desconhecido, mas que guarda tanta beleza, como deu pra constatar nas poucas fotos que você tirou até agora. Como eu já lhe disse, ainda sonho em passar um dia inteiro nestes gramados, debaixo de uma árvore, lendo um bom livro, seja sozinho ou com uma pessoa especial. Essa é uma das minhas concepções de paraíso (deve ser influência daquela novela, A Viagem, o que vem a calhar aqui). 


Rodrigo Ferreira | 28-04-2011 10:14:54 

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