sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O cheiro do café

O cheiro do café

coffee_by_ironicna

De repente lembrou-se do cheiro do café, das manhãs de primavera, do sol na janela, e a sensação de abraçar a si mesma e dar bom dia ao sol. De repente tudo aquilo já nem era mais uma lembrança tão distante, era a sensação de tinha acontecido ontem.


Ainda lembrava exatamente da caneca ao sol, esperando calmamente pelo café, do filtro a coar, e da lembrança de infância do avô colhendo o café pra depois a avó moer. A vida nem parecia tão triste dentro dessa imagem. Era o raio de sol que iluminava a alma.


De repente só parecia ruim demais crescer, ruim demais não conseguir se olhar no espelho, ou aguentar as verdades e o peso do mundo calada. De repente o silêncio era um monstro, que devorava ela inteira de dentro pra fora, e quanto mais pedaços ela perdia, mais pedaços queria perder, até sumir, de uma vez por todas.


Diziam que o amor era a salvação, mas a verdade é que não havia mais amor para salvar, nem por si mesma, nem por ninguém. O amor era a mentira bonita dos livros, era a mão que calava a boca dos insatisfeitos e infelizes. Ela não tinha mais amor, não precisava dele.


De repente ela só queria estar ali, sentir o cheiro do café, morar naquela lembrança, para sempre.

domingo, 8 de maio de 2011

Sobre Comer e Cozinhar... Amar e Recordar

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- Sobre Comer e Cozinhar... Recordar e Amar –

Foto por Tatita Supertramp


Dedico esse texto a todos aqueles que passaram pela minha vida e provaram uma receita minha, e a todos aqueles que irão provar. Com certeza vocês provaram ou provarão algo que foi feito com muito amor, carinho e prazer.



Um dos meus passatempos favoritos é cozinhar. Não sei exatamente como isso começou, mas se eu parar pra pensar, consigo me recordar que desde pequena me encantava ficar na beirada do fogão vendo a minha avó cozinhar, minha mãe, meu pai, e às vezes até mesmo as empregadas lá de casa.



Esses dias conversando com uma das minhas amigas de infância recordamos de alguns episódios de quando éramos pequenas e de umas travessuras que a gente fazia sempre. E dentre essas travessuras, uma delas era esperar que a mulher que cuidava de mim e da minha irmã fosse embora pra começarmos a inventar modas na cozinha, cozinhar tortas e salgados, e fazer de conta que éramos gente grande. E num desses episódios inclusive, por alguma razão que não me lembro, a mulher voltou pra casa depois de ir embora, e tivemos que esconder atrás da casa uma assadeira de bolo. A gente era feliz demais e mal sabia.



Esse provavelmente vai ser um daqueles textos um pouco nostálgicos, afinal de contas, eu estou longe de casa, e em escala de tempo também estou um pouco longe da minha infância. Mas como esse não é um texto planejado, provavelmente boas memórias surgirão talvez as melhores, e claro que com elas virá também muito amor, e muita comida.



Outra coisa que vem comigo tem alguns anos, é um pensamento de que alimentar as pessoas é algo realmente gratificante e especial. A sensação de cozinhar pra alguém e ver esse alguém saboreando com prazer o que você preparou, é uma realização única (pelo menos para quem gosta de cozinhar). E claro que elogios e críticas são sempre bem vindos, e acabam sendo responsáveis por novas idéias e invenções na cozinha.



É mundial esse costume de todos se reunirem em volta de uma mesa, comendo, conversando e rindo, falando sobre o dia, desabafando às vezes, e até mesmo recordando do passado, de épocas boas recheadas de saudade e de aroma e sabor de boa comida e bebida com companhias maravilhosas! E acho que isso explica um pouco de onde vem o meu prazer pela culinária.



Algumas das minhas melhores lembranças envolvem uma cozinha. Como quando eu era pequena (menor do que sou agora, e mais nova, lógico!) e minha avó me fazia leite com Quicky e era fantástico poder tomar um líquido rosa gostoso, ou quando ela fazia brigadeiro, sim aqueles de panela, só que brigadeiro de panela que avó faz é mais especial, porque dá pra enrolar e por granulado (não me pergunte como ela fazia isso, eu não sei, quisera eu saber, afinal vou ser avó um dia). Minha avó é uma das melhores cozinheiras do mundo, ela faz bolinho de chuva com banana, sonho, nhoque, fatia húngara, um caldinho de bife perfeito e claro, torta de legumes (a minha favorita)! E quando eu era pequena, quando ia almoçar na casa dela todo domingo macarrona, ela fazia macarrão com pique-pique pra mim (e não, essa eu não vou contar o que é quem me conhece sabe).



Outra lembrança boa que eu tenho de comer e comidas são os almoços de natal e ano novo. Nossa família naquela época era gigante, tinha tios e tias, e avôs, avós, primos... O tempo passa, vão ficando lembranças de pessoas que a vida levou, fica saudade, fica o amor. Hoje nossa família não é mais tão imensa assim, mas pra mim ela é imensa na união, no carinho, nos momentos que temos sentados numa mesa, tomando café, contando da vida, rindo, conversando, às vezes reclamando... Não há muitas pessoas, mas há o suficiente pra saber que nos amamos, e que somos muito amados um pelos outros.



Vou me dar nesse momento ao direito de lembrar de duas pessoas especiais demais pra mim, das quais eu tenho lembranças maravilhosas de infância, mas que hoje infelizmente não estão mais aqui, mas vivem no meu coração e na minha memória sempre: meus dois avôs. O meu avô paterno que morreu quando eu tinha só nove anos de idade, mas que deixou boas lembranças de brincadeiras, carinho e amor, e de muitos doces (ele era dono de um bar). E meu avô materno, que morreu há cerca de um ano e meio, deixando muita saudade no coração, muitas lembranças de infância também, de bichinhos feitos de manga no quintal, de cafés da tarde de sábado com a família fazendo palavras cruzadas, que faz muita falta todos os dias.



Não tem como não falar das invenções culinárias da minha avó paterna também, doces maravilhosos de frutas do seu quintal, uma berinjela com tomate e vinagre divina, seus famosos manjares, bolos, pães caseiros... Enfim, receitas de última hora, pra agradar os netos, os filhos e quem mais estiver disposto a prová-las, e que são muito gostosas, afinal, avó sempre sabe o que faz.



E falando assim de pão caseiro, me recordei de uma coisa da minha infância que minha avó custa a acreditar que eu me lembro, porque segundo ela eu era pequena demais pra lembrar, mas que eu me lembro claramente. Ela fazendo pão caseiro, e moendo o café que meu avô plantava no quintal e colhia, deixava ali no sol. Essa é uma das minhas lembranças favoritas de infância, dentre muitas outras.



Mas indo um pouco pra algo mais atual, e contando um pouco mais dessa minha ligação entre comida, comer, amar e recordar de coisas... Vamos pra um dos meus momentos favoritos da atualidade, café da manhã de domingo na casa dos meus pais. Puxa vida como é bom quando a gente se reúne. Raramente estamos os quatro em casa, na verdade é praticamente impossível de acontecer, a Ana mora em Niterói, eu em Rio Preto, mas mesmo assim não volto sempre pra casa, meu pai sempre viaja a trabalho, e minha mãe, trabalha bastante, mas é quem passa mais tempo em casa.



Dificilmente conseguimos nos sentar a mesa num domingo juntos, mas quando acontece é simplesmente perfeito, a gente ri, toma café, come pão e tudo mais o que tiver na geladeira, conversa até falar chega, lê notícias em revistas... Ah a gente se diverte demais da conta. Família é a melhor coisa do mundo, não tem jeito. E agora ela está aumentando um pouquinho também, tem o Rafa (meu namorado) que já é família, e tem o João (namorado da Ana), que não conheço ainda, mas que também está entrando pro bando... hehe. Esse ano o natal vai ser animado!



E claro que não posso deixar de falar dos jantares com os amigos, com o pessoal do laboratório, que a gente fica bebendo, cozinhando e conversando e comendo. Onde todos se arriscam a provar as minhas idéias mirabolantes, que por sorte até hoje só deram certo (salvo um episódio de um macarrão com molho de laranja, mas essa só o Renan sabe... hehehe). E é sempre muito gostoso, porque todo mundo está unido, tendo um momento de descontração, é família também... hehe.



E por falar no Renan (ex-namorado, e amigo pra toda vida e mais um pouco), não posso deixar de citar as nossas memórias culinárias. Aprendeu muito comigo na cozinha, me ensinou muito também. Cozinhamos juntos muitas vezes, rimos e bebemos, e até desenvolvemos uma idéia louca de uma saga culinária onde tentávamos fazer todas as receitas de macarrão que encontrássemos o que nos rendeu muitas macarronadas, mas que foi bem divertido. E faço aqui um aparte para a massa de pizza da madrugada, e o churros de domingo à tarde com receita da internet, muito bom também (idéia de Renan, claro!).



E tem também as yakissobas com o pessoal da lotérica, que estou devendo uma faz um bom tempo pra eles, mas se tudo correr bem, logo compro uma woki, e aí vai ser só alegria. Tem as vezes que cozinhava em Guaxupé no apartamento da Karen, onde ela e o Rodrigo eram minhas cobaias. Tem muita história boa com comida na minha vida, muita mesmo!



E agora, claro que não posso deixar de falar de duas pessoas em especial pra quem eu adoro cozinhar, minha mãe e o Rafa.



Vamos começar por mamãe que é dia das mães hoje! Cozinhar pra minha mãe é extremamente prazeroso, assim como eu ela aprecia demais comer, gosta de coisas diferentes, adora comprar livros de receitas, mas por falta de tempo não tem mais como cozinhar. Então sempre que eu posso, eu vou pra casa e faço algo que eu sei que ela adora, pra ver se ela come algo que não seja miojo só pra variar um pouco. E claro, ela sempre se acaba de tanta alegria.

Já o Rafa, ah... É ótimo cozinhar pra ele, ligar toda sexta pra ver se ele está com vontade de comer algo específico, vê-lo comendo creme de milho, sopa de feijão, purê de batata até falar chega, porque ele adora quando eu faço, é bom demais. Fora que toda sexta quando ele chega, eu ainda estou cozinhando, então a gente passa um tempão na cozinha conversando enquanto eu cozinho, quando eu deixo, ele me ajuda, e é sempre gostoso demais dividir isso com ele.



E aqui na Espanha, não é nada diferente, tudo é um bom motivo pra comemorar, chamar os amigos pra jantar, tomar um bom vinho, cada um traz uma coisa, cada um faz uma parte, e no final estamos sempre todos rindo, conversando, comendo, bebendo, e cantando, porque o pessoal aqui é muito musical, e a música aqui ganha novas conceitos, fantásticos por sinal. Todo mundo é super animado, tem muito carinho, muita felicidade entre os amigos.



Bem, acho que é daí que vem a minha paixão por culinária, ela une pessoas, está presente em boa parte dos momentos, é uma prática que pra mim está profundamente ligada a amor, carinho, zelo... Alimentar pessoas é um ótimo jeito de cuidar, amar e estar perto delas. Comer, cozinhar, amar e recordar é a melhor coisa que há.



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Comentários:

o vôo culinário da borboleta ..trocaremos receitas. bj 


kico tamberlini | 08-05-2011 09:26:26 

sábado, 7 de maio de 2011

A jornada

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- A jornada –

Foto tirada por uma estranha

Dedico essa aventura a minha família e ao meu namorado Rafael, que estiveram comigo o tempo todo naquela montanha, na cabeça e no coração.

Chega um dia na sua vida que você sai de casa pensando que vai fazer uma caminhada agradável pelas ruas, ou então conhecer no máximo uma praia, comer algo diferente, sei lá... E de repente seus companheiros de viagem te perguntam: “Você agüenta caminhar por muito tempo?” Eu não tinha idéia de quão perigosa podia ser essa pergunta... E então só disse “Sim, acho que sim!”



Durante a semana santa fizemos uma viagem para o norte da Espanha de quatro dias, as tão esperadas vacaciones do José Luís... hehe, para San Vicente de La Barquera. Uma cidade pequena, perto de muitos pueblos, e cercada de praias, natureza e montanhas.



Todas as manhãs acordar já implicava em surpresa, porque o José Luís (que vive no apartamento em que estou vivendo aqui em Toledo) sempre tinha algo novo pra comer típico da região, e além de tudo um super plano em sua cabeça do que faríamos naquele dia. Um super plano que sempre começava com a gente saindo de carro, e indo a um lugar mais ou menos perto, onde a aventura começava.



E isso me põe exatamente na parte em que uma manhã eu desperto e dou de cara com o José Luís me perguntando “Você agüenta caminhar por muito tempo?” e claro que quando eu respondi isso eu me imaginei numa trilha, num campo, num passeio de algumas horas a pé, em qualquer coisa, menos numa escalada a pé de mais de seis horas numa montanha. A vida é mesmo surpreendente às vezes!



Acho que nem preciso dizer às pessoas que me conhecem quão sedentária eu sou, e quanto é difícil pra eu pensar em qualquer coisa que exija esse tipo de esforço físico. Mas caramba! É a Europa, esse lugar tem muitas montanhas, são simplesmente muito lindas cobertas de neve, ou então de verde, agora nessa época mais quente. É uma coisa única na vida isso, nunca se sabe quando vai haver outro tipo de oportunidade como essa de novo. Então claro que eu tinha que me meter à besta e ir.



Sabe, enquanto se escala uma montanha dá pra pensar em várias coisas, a paisagem te inspira muito a pensar sobre a vida, as escolhas, as pessoas, tudo. E em alguns pontos é difícil a subida, principalmente pra pulmões e pernas como as minhas que não estão acostumados. Houve momentos em que eu tinha certeza que não ia conseguir, ou então pensava em desistir, e nessas horas eu só tenho a agradecer a um dos meus companheiros de escalada, Pedro, que não me deixou desistir em momento nenhum, me ajudou a subir às vezes, e fez com que eu conseguisse completar o trajeto todo.



Eu vi neve de perto, e peguei um punhado em minhas mãos, uma coisa que nunca tinha tido oportunidade de fazer, vi casas na montanha, vi árvores que crescem nas montanhas, e por fim, vi de perto o objetivo maior da escalada, o pico do Naranjo que é nada mais nada menos que perfeito e fez valer cada segundo da escalada, cada pensamento.



Na verdade acho que só as coisas que eu pensei e sobre as quais eu refleti a caminho já fizeram valer toda a jornada. E a descida assim como a subida não foi nada fácil, havia muita neve no chão e era muito escorregadio, e eu tinha muito medo de escorregar pro lado errado e cair do alto das montanhas. Mas a boa notícia é que se agora estou aqui escrevendo é porque isso não aconteceu.



Foi uma grande jornada, com muito companheirismo, conversas, momentos de silêncio e pensamentos, muitos quilômetros, muito verde, neve... Uma jornada de corpo e de alma também. Que eu vou lembrar pro resto da vida.



Naquela noite, eu não consegui dormir de modo algum, senti dores musculares e câimbras nas duas pernas durante a noite inteira. E no único momento que consegui cochilar eu sonhei que dizia ao meu pai que ele precisava me levar ao hospital porque as minhas pernas doíam muito. Engraçado como funciona a cabeça da gente. No dia seguinte eu não consegui andar o dia todo... E você me pergunta se eu faria novamente, e eu te digo, com certeza!



segunda-feira, 25 de abril de 2011

Por las calles de Toledo

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- Por las calles de Toledo -  


Calle de Toledo por Tati Supertramp





Depois de muitos dias ausente, estudando o território, vivendo coisas, sentindo falta de outras, comparando algumas... Cá estou! E ainda me pergunto por onde devo começar, uma vez que cada vez que eu penso as palavras já começam a ser um problema para ser escritas em português já que preciso pensar em língua espanhola 24 horas do meu dia.
Bem, por onde começar... Por onde começar? Já sei... Antes de tudo Madrid! O pós vôo!


Bem como a maioria das pessoas sabe, e agora as que ainda não sabiam, eu cheguei viva obviamente a Madrid, e a cidade é realmente fantástica, um show de informações visuais, uma mais bela que a outra, com muitas fontes e parques verdes agora na primavera, pessoas lendo, casais, famílias... O lugar na primavera é cheio de vida, isso eu preciso dizer.


E a noite? Madrid é uma cidade que quase nunca dorme, onde se podem passar horas andando de bar em bar, alguns muitos parecidos, outros muito diferentes, com gente de todo quanto é canto do mundo, chineses, espanhóis, franceses, italianos, portugueses... E até brasileiros! Afinal estamos em todos os lugares, realmente! E essa mistura toda é encantadora, cheia de charme. Pessoas de todos os lugares, conversando e rindo como uma grande família mundial, interagindo e conversando com desconhecidos, como se fossem velhos amigos, ou irmãos... É realmente encantador!
Mas depois de dois dias foi preciso me despedir de Madrid, com uma promessa de volta, para conhecer um pouquinho mais, e com sorte ver o tão esperado quadro de Picasso, Guernica.


Isso me põe agora em Toledo. Toledo La Dulce Toledo! Creio que essa seja a expressão que melhor define o sentimento apaixonante que tomou conta de mim no momento que coloquei os meus pés em Toledo. Muitas pessoas haviam me dito que Toledo era uma cidade muito bonita, que era ótima, que eu iria gostar muito e tudo mais... Mas a verdade é que só eu mesma consigo entender o que senti ao chegar a Toledo.


Posso dizer que gosto muito do Brasil, e é encantador em todos os sentidos, mas o que eu amo no Brasil, são as pessoas que aí vivem e fazem parte da minha vida, essa é a grande verdade, não amo o Brasil, mas sim as pessoas que conheço e que o habitam. Mas com Toledo é diferente, é uma paixão pelo lugar, pela cidade, por todas as ruas pequeninas, repletas de cultura, religião, e um brilho antigo inexplicável, que ganha charme e conforto com a primavera, enchendo as janelas e as ruas de flores.


Durante muitos dias mesmo com um mapa, me perdi pelas ruas, que nos primeiros dias me pareciam todas iguais, mas que depois ganhavam em minha mente uma aparência única.


Mas porque falar só da cidade? Preciso também falar do que passei a chamar de casa por aqui, um pouquinho da Universidade e tudo mais.


O apartamento onde moro é a casa de mais três pessoas, uma inglesa de Londres, Lottie, que está aqui atualmente dando aulas de inglês em uma escola, um espanhol, José Luis, fisioterapeuta com seu próprio consultório, muito ocupado na maior parte do tempo e por fim, e não menos importante, uma espanhola, Mar, que é médica, e dedica-se todos os dias de corpo e alma a profissão. E com sorte, às vezes no final do dia, nos encontramos todos como uma família, minha terceira família (afinal a minha segunda família é a família do Rafa), e jantamos juntos, do jeitinho espanhol. Essa família vai deixar muita saudade quando eu voltar ao Brasil, não é todo dia que encontramos uma casa com árvore de natal o ano todo como a minha no Brasil.



A Universidade... Ah, a Universidade!
Universidad de Castilla – La Mancha, La Faculdade de Ciências Ambientales conhecida também como a Antiga Fábrica de Armas, é simplesmente maravilhosa na primavera… Sei que pode soar um pouco repetitivo isso, mas é realmente assim, os estudantes passam muito tempo entre as aulas, sentados nos gramados, conversando e comendo os famosos bocadillos de todos os sabores e mais um pouco, tomando café e aproveitando o glorioso sol e calor que vem com a primavera aqui na região.


Como diz o próprio Juan Carlos (meu orientador aqui), nosso laboratório é como o banheiro de um avião, é pequeno, mas tem absolutamente de tudo... Hehe. Somos uma equipe de três pessoas, Salomé, uma espanhola com a minha idade mais ou menos, Andrea, um italiano muito simpático e concentrado em suas análises, e eu, uma brasileira que trabalhou a vida toda em laboratório com ecotoxicologia aquática, e agora está se metendo um pouquinho na parte terrestre, estudando minhocas e solos. Só uma breve observação, essa pra uma pessoa em especial: Du, logo faço o post que você pediu de ecotoxicologia para leigos.


As horas aqui passam bem rápido, e cada dia eu descubro um caminho que me leva a um lugar novo. Já vou à universidade tranquilamente sem me perder, aprendi também a andar por umas ruas daqui com umas lojinhas bem legais, ir ao mercado é bem fácil e perto de casa, e o lugar que conheci há pouco tempo, mas que já se tornou mais do que querido também, é a biblioteca, e claro que eu já fiz uma carteirinha pro poder retirar livros, filmes, e CDs que fazem parte do incrível acervo que a biblioteca possui.


Toledo, La Dulce Toledo me recebeu de braços abertos, faz com que me sinta cada dia mais em casa e cheia de cultura, tem muitos cheiros e sabores diferentes, tem muitas cores e pessoas diferentes, mas acima de tudo, tem muito encanto.

E, além disso, estou aprendendo um monte de receitas novas e sabores novos, e aprimorando cada vez mais minhas tostadas de café da manhã, com huevos e tomate, afinal logo chega o Rafael por aqui, e ele precisa ter a honra de experimentar a versão final, hehe com café madrileño.



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Comentários:

Engraçado você dizer que já está sentindo dificuldades em escrever textos em português. A gente que nunca passou pela mesma experiência que você não atina pra esse detalhe de ter que viver a maior parte do tempo falando e pensando em outra língua, e dos efeitos disto em nossa própria forma de elaborar pensamentos. A capacidade que temos de nos adaptar a situações como esta é fascinante, se paramos pra pensar. Dito isto, só me resta admitir que sinto inveja do contato com tamanha carga de cultura que você vem tendo por aí. Deve ser um baita choque cultural e sensorial andar por uma cidade tão rica de um país desconhecido, mas que guarda tanta beleza, como deu pra constatar nas poucas fotos que você tirou até agora. Como eu já lhe disse, ainda sonho em passar um dia inteiro nestes gramados, debaixo de uma árvore, lendo um bom livro, seja sozinho ou com uma pessoa especial. Essa é uma das minhas concepções de paraíso (deve ser influência daquela novela, A Viagem, o que vem a calhar aqui). 


Rodrigo Ferreira | 28-04-2011 10:14:54 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Vôos na Europa

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- 5 minutos -


Pablo e Tati - Companheiros de furada... hehe


Daína diz:
 *isso em um dia...

"Es un beso normal, de esos que se dan las parejas como que por inercia..." diz:
*exatamente

Daína diz: 
*imagina em três meses

Bom talvez agora seja uma boa hora pra se respirar fundo, porque a carga de absurdos que vem a seguir vai ser bem grande, mas como vem de mim, acho que as pessoas nem vão estranhar tanto assim...

Pegar o vôo de Rio Preto para Congonhas não foi uma tarefa nada fácil, namorado internado que não chegou a tempo, minha mãe não tinha como ir até lá, tive que ver meu pai e a Daína de longe e não pude ficar com eles... Enfim... dar tchau é uma coisa difícil demais, não imaginava que fosse tanto mas é.


Sentei bonitinha no avião, e fui até Congonhas, de lá, fiquei meio perdida mas depois entrei na interminável fila que me deixaria entrar no ônibus que me levaria à Guarulhos. Depois de longas horas de sono no ônibus, coisa que é a minha especialidade, cheguei.

Um moço inclusive me ajudou a localizar-me no aeroporto, fizemos check-in juntos, ele ia pro mesmo vôo que eu para Madrid. Sentamos para tomar um café, já que teríamos umas boas horas pra esperar, e ficamos conversando, conversando e conversando... Sim eu falo demais eu sei...

Foi então que resolvi ir atrás de umas coisas que uma menina brasileira que vive em Toledo me pediu porque não existe aqui na Espanha e ela sente muita vontade de comer. Procurando por todos os lados, eu e meu companheiro de viagem finalmente achamos e fomos em direção ao nosso portão de embarque.

Mas a gente não sabia onde ele ficava, e quando chegamos a ele, quase morrendo os dois sem fôlego, a mocinha do balcão disse que já tava encerrada a entrada por 5 MINUTOS, 5 minutos... Putaquepariu... acho que meu rosto foi mudando de cor e chegando num tom de "azul vou morrer ou vão me matar", e pedi pelamordedeus pra ela, mas claro NÃO ADIANTOU!

Depois de ouvir umas 30 vezes o Pablo (o coitado que acabou se dando mal junto comigo) dizendo "Calma Tatiana" eu finalmente voltei a respirar. E lá fomos nós pro guichê pra remarcar o vôo torcendo pra não ter que pagar nenhum centavo e ainda por cima ter vôo com lugar pra gente, foram os 20 minutos mais longos da minha existência.

Moral da história: Fui parar em Paris! Não do jeito que eu sempre sonhei nem nada, fui num vôo umas 2h depois do que eu deveria ter ido, cheguei às 20h40 em Madrid ao invés de 12h como o esperado. Meu companheiro de viagem foi pra Zurick e depois de lá ia pra Bruxelas, e creio eu que chegou bem, assim como eu.

Falei um monte de inglês com francês, comi umas coisinhas gostosas no vôo da Air France, vi muito biquinho (sim os franceses realmente fazem). Concluí até então que eles não são grossos como as pessoas me disseram... Mas me fizeram tirar até os sapatos no detector de metais, e no raio X, mas beleza, a moça ficou me revistando, e perguntou o que era que eu tinha na altura do peito, e eu disse "meu sutiã" hahahahaha. E era oras... o que mais eu podia dizer?!

Cheguei a Madrid! Sã e salva, estou na casa de um grande amigo que me acolheu e me recebeu super bem, junto com mais uns outros conterrâneos, e está sendo ótimo. Dói de saudade de casa, de família, namorado, amigos... Mas logo estou de volta... Até lá... vou estudando e curtindo por aqui mesmo. E amanhã o roteiro parece ótimo... hehe.

Beijão enorme, saudades de todos, muita saudade mesmo.
Tati supertramp em Madrid.


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Comentários:

Hahahahahahahaha! Se não fosse assim não seria vc! Bjs! 


Daína | 08-04-2011 21:53:02 

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Bom, pelo menos você teve companhia pra perder o vôo! : ) heheheh... beijo! 


Eduardo V. | 08-04-2011 22:22:11 

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Teu nome tinha que ser aventura...viva cada uma delas intensamente, mesmo que as vezes a gente quase morra de medo...estou morrendo de saudade já, e depois de falar com a Daína, agradeci não ter ido ao aeroporto me despedir. Com certeza teria chorado demais. beijos pra vc e pro meu filhão de coração que te acolheu. 


solange | 09-04-2011 08:56:04 

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Ohhh my!!! Que azar... mas pelo menos foi emocionante, tirou fotos??? 


Lilian | 09-04-2011 10:32:31

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tempestade sentimental


Tempestade sentimental


Time Travel by Sortvind



Acho que de todas as vezes que já escrevi aqui, essa é a primeira que eu realmente resolvi falar de mim diretamente. Antes de tudo, eu queria dizer que eu não estou morrendo e nem nada do tipo, na verdade, eu vou apenas viajar e gostaria de deixar por aqui uma demonstração de carinho pra todas as pessoas que vão ficar longe de mim durante esses 92 dias, e que vão fazer falta demais na minha rotina, mas antes vou falar de outra coisa...

Eu sou o tipo de pessoa extremamente curiosa, adoro conhecer coisas novas, e lugares novos, eu sempre pensei na verdade que o mundo é pequeno demais, pode parecer um pouco arrogante dizer isso, mas eu sempre senti que o mundo era pequeno pra mim, e as vezes eu me pegava pensando que um dia eu iria precisar dar um jeito de conhecer o espaço, já que conhecer o mundo ainda assim não parecia o bastante. Mas... Ambições à parte... A verdade é que até hoje eu conheci poucos lugares, e até mesmo os menores foram memoráveis, deixaram lembranças únicas e maravilhosas, e uma vontade imensa de voltar um dia.No entanto, nunca fui pra muito longe, nunca conheci outro país, ou fiquei longe de casa por mais de um mês, não que eu seja grudada a minha família, mas até hoje não vi razão pra ficar longe deles se posso estar perto. Mas vamos ao que interessa...

Conhecer a Europa é um daqueles sonhos que eu tenho desde sempre, juntamente com ter um restaurante, virar escritora um dia, e ilustrar e escrever livros infantis. Bom as minhas árvores já estão plantadas, livros por enquanto acho que vão ter que esperar (me dou o direito de por enquanto ser só leitora mesmo), cozinhar... vou treinando em casa por enquanto e usando meus amigos de "cobaias". Disso tudo, me sobra a viagem pra Europa, era aquele sonho que eu imaginava pra depois dos 40 anos, sabe-se lá porque, mas que no auge dos meus 26 anos (grande coisa) eu vou realizar!

Dentro de três dias estou indo para Toledo. Pra quem não sabe, Toledo fica perto de Madrid, na Espanha, e era a antiga capital do país, uma cidade belíssima segundo disseram as pessoas que conheço e já estiveram por lá. Vou viver numa casa com pessoas que eu não conheço, falar uma língua que não é a minha, ver uma série de coisas, lugares e pessoas novas. Se vou a passeio? Não, não vou a passeio, na verdade estou indo graças a uma bolsa que consegui, para desenvolver uma pesquisa na área de ecotoxicologia (ecotoxi o que?!) e bioquímica pra trabalhar com minhocas (sim, minhocas, não diga eca), ou seja, fazer o que eu faço de melhor durante três meses.

Agora vem a parte que deu origem a tudo isso... Bom, o Rodrigo, como bom leitor que é, e curioso como eu, sugeriu que eu mantivesse um diário de viagem, então cá estou, fazendo uma preparação para o que virá, dando uma prévia do que vai acontecer por aqui daqui pra frente. E diga-se de passagem, eu ameeei a idéia dele!

Estou muito ansiosa, meus pensamentos estão desorganizados pra caramba, tem horas que eu me perco nas coisas que eu quero dizer ou preciso fazer. A mala está sendo feita, cada vez ela fica mais cheia, cada vez eu lembro que esqueci algo, não tomei vergonha na cara pra fazer uma lista de tudo, mas vou fazer isso hoje.

Já chorei horrores porque vou ficar longe de casa, namorado, amigos, companheiros de laboratório (amigos), peixe, hamster e tudo mais... Já pensei que ia dar tudo errado, mas agora penso que vai dar tudo certo, já quis desistir por meio segundo, aí passou. Já quis e ainda queria poder levar todo mundo na minha mala, mas não posso. Já pensei que tenho que fazer isso sozinha. Já tive medo de não querer voltar. Já olhei milhares de fotos e me dei conta de como tenho pessoas especiais na minha vida e sou querida, e chorei. Já sorri atoa de pensar em tudo que vou ver por lá. E acima de qualquer coisa, senti saudade, uma saudade por antecipação imensa.

Saudades de pensar que não vou ver minhas avós aos sábados e nem tomar café da manhã com meus pais no domingo... De pensar que não vou pro laboratório daqui e ouvir as piadas do pessoal e do Eduardo... De pensar que não vou conversar com meu peixe e meu hamster todos os dias... De pensar que não vou ver minha irmã... De pensar que não vou sair com meus amigos daqui... Saudades de pensar que não vou dormir com meu namorado e nem sentir o cheiro dele e nem o abraço... Passa rápido quando se está num lugar novo, eu sei. Mas um dia, mesmo que no Brasil, já é o suficiente pra eu sempre sentir saudade das pessoas que eu tanto amo.

Vai ser uma experiência única, mas vai ser triste o fato de não poder dividi-la de perto com quem eu tanto quero bem. Creio que isso seja o mínimo que eu possa fazer pra me sentir perto e pra todos se sentirem perto de mim... Então... Vôos oníricos de volta, voando pra Europa! 


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Comentários:

Ai ai, to aqui pensando no tantão de saudades que eu vou sentir! Mas garanto que não é maior que a felicidade que to sentindo e o orgulho que tenho de você! Amoooo muito! 

Daína | 04-04-2011 11:12:25 
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E eu então?! Vou morrer sem ter vc lá pra comentar de tudo... Maaaas a Califórnia te espera, e vai ser tudo maravilhoso lá! Tb sinto um orgulho imenso de vc! Beeeijos, amo demais vc! 


Tati | 04-04-2011 11:16:51 

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A mãe mais orgulhosa tá chorando já faz tempo, hora de orgulho, hora de saudade, hora de medo...Te amo demais filhota, tenho certeza que vai ser a primeira de muitas experiências que ainda virão e que nos deixarão orgulhosos e saudosos! 
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solange | 04-04-2011 14:45:16 


É como eu vivia te dizendo em diversas ocasiões: você merece ser feliz. Realizar um sonho como esse ainda jovem é uma das melhores experiências que alguém pode ter, e você fez por merecer tudo que está acontecendo agora. Vou ficar de olho neste diário, e deixo pra você outra sugestão: crie um flickr e tente postar fotos nele sempre que possível. Tenho certeza que você verá muita coisa por lá que vai ficar doida pra compartilhar com as pessoas que você gostaria que estivessem com você, e que você não vai querer esperar até a volta pra mostrar pra elas. Felicidade é pra compartilhar mesmo. Abraço, beijo, boa viagem, e que todos esses 92 dias sejam inesquecíveis no melhor sentido possível. 


Rodrigo | 05-04-2011 09:14:59