domingo, 8 de maio de 2011

Sobre Comer e Cozinhar... Amar e Recordar

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- Sobre Comer e Cozinhar... Recordar e Amar –

Foto por Tatita Supertramp


Dedico esse texto a todos aqueles que passaram pela minha vida e provaram uma receita minha, e a todos aqueles que irão provar. Com certeza vocês provaram ou provarão algo que foi feito com muito amor, carinho e prazer.



Um dos meus passatempos favoritos é cozinhar. Não sei exatamente como isso começou, mas se eu parar pra pensar, consigo me recordar que desde pequena me encantava ficar na beirada do fogão vendo a minha avó cozinhar, minha mãe, meu pai, e às vezes até mesmo as empregadas lá de casa.



Esses dias conversando com uma das minhas amigas de infância recordamos de alguns episódios de quando éramos pequenas e de umas travessuras que a gente fazia sempre. E dentre essas travessuras, uma delas era esperar que a mulher que cuidava de mim e da minha irmã fosse embora pra começarmos a inventar modas na cozinha, cozinhar tortas e salgados, e fazer de conta que éramos gente grande. E num desses episódios inclusive, por alguma razão que não me lembro, a mulher voltou pra casa depois de ir embora, e tivemos que esconder atrás da casa uma assadeira de bolo. A gente era feliz demais e mal sabia.



Esse provavelmente vai ser um daqueles textos um pouco nostálgicos, afinal de contas, eu estou longe de casa, e em escala de tempo também estou um pouco longe da minha infância. Mas como esse não é um texto planejado, provavelmente boas memórias surgirão talvez as melhores, e claro que com elas virá também muito amor, e muita comida.



Outra coisa que vem comigo tem alguns anos, é um pensamento de que alimentar as pessoas é algo realmente gratificante e especial. A sensação de cozinhar pra alguém e ver esse alguém saboreando com prazer o que você preparou, é uma realização única (pelo menos para quem gosta de cozinhar). E claro que elogios e críticas são sempre bem vindos, e acabam sendo responsáveis por novas idéias e invenções na cozinha.



É mundial esse costume de todos se reunirem em volta de uma mesa, comendo, conversando e rindo, falando sobre o dia, desabafando às vezes, e até mesmo recordando do passado, de épocas boas recheadas de saudade e de aroma e sabor de boa comida e bebida com companhias maravilhosas! E acho que isso explica um pouco de onde vem o meu prazer pela culinária.



Algumas das minhas melhores lembranças envolvem uma cozinha. Como quando eu era pequena (menor do que sou agora, e mais nova, lógico!) e minha avó me fazia leite com Quicky e era fantástico poder tomar um líquido rosa gostoso, ou quando ela fazia brigadeiro, sim aqueles de panela, só que brigadeiro de panela que avó faz é mais especial, porque dá pra enrolar e por granulado (não me pergunte como ela fazia isso, eu não sei, quisera eu saber, afinal vou ser avó um dia). Minha avó é uma das melhores cozinheiras do mundo, ela faz bolinho de chuva com banana, sonho, nhoque, fatia húngara, um caldinho de bife perfeito e claro, torta de legumes (a minha favorita)! E quando eu era pequena, quando ia almoçar na casa dela todo domingo macarrona, ela fazia macarrão com pique-pique pra mim (e não, essa eu não vou contar o que é quem me conhece sabe).



Outra lembrança boa que eu tenho de comer e comidas são os almoços de natal e ano novo. Nossa família naquela época era gigante, tinha tios e tias, e avôs, avós, primos... O tempo passa, vão ficando lembranças de pessoas que a vida levou, fica saudade, fica o amor. Hoje nossa família não é mais tão imensa assim, mas pra mim ela é imensa na união, no carinho, nos momentos que temos sentados numa mesa, tomando café, contando da vida, rindo, conversando, às vezes reclamando... Não há muitas pessoas, mas há o suficiente pra saber que nos amamos, e que somos muito amados um pelos outros.



Vou me dar nesse momento ao direito de lembrar de duas pessoas especiais demais pra mim, das quais eu tenho lembranças maravilhosas de infância, mas que hoje infelizmente não estão mais aqui, mas vivem no meu coração e na minha memória sempre: meus dois avôs. O meu avô paterno que morreu quando eu tinha só nove anos de idade, mas que deixou boas lembranças de brincadeiras, carinho e amor, e de muitos doces (ele era dono de um bar). E meu avô materno, que morreu há cerca de um ano e meio, deixando muita saudade no coração, muitas lembranças de infância também, de bichinhos feitos de manga no quintal, de cafés da tarde de sábado com a família fazendo palavras cruzadas, que faz muita falta todos os dias.



Não tem como não falar das invenções culinárias da minha avó paterna também, doces maravilhosos de frutas do seu quintal, uma berinjela com tomate e vinagre divina, seus famosos manjares, bolos, pães caseiros... Enfim, receitas de última hora, pra agradar os netos, os filhos e quem mais estiver disposto a prová-las, e que são muito gostosas, afinal, avó sempre sabe o que faz.



E falando assim de pão caseiro, me recordei de uma coisa da minha infância que minha avó custa a acreditar que eu me lembro, porque segundo ela eu era pequena demais pra lembrar, mas que eu me lembro claramente. Ela fazendo pão caseiro, e moendo o café que meu avô plantava no quintal e colhia, deixava ali no sol. Essa é uma das minhas lembranças favoritas de infância, dentre muitas outras.



Mas indo um pouco pra algo mais atual, e contando um pouco mais dessa minha ligação entre comida, comer, amar e recordar de coisas... Vamos pra um dos meus momentos favoritos da atualidade, café da manhã de domingo na casa dos meus pais. Puxa vida como é bom quando a gente se reúne. Raramente estamos os quatro em casa, na verdade é praticamente impossível de acontecer, a Ana mora em Niterói, eu em Rio Preto, mas mesmo assim não volto sempre pra casa, meu pai sempre viaja a trabalho, e minha mãe, trabalha bastante, mas é quem passa mais tempo em casa.



Dificilmente conseguimos nos sentar a mesa num domingo juntos, mas quando acontece é simplesmente perfeito, a gente ri, toma café, come pão e tudo mais o que tiver na geladeira, conversa até falar chega, lê notícias em revistas... Ah a gente se diverte demais da conta. Família é a melhor coisa do mundo, não tem jeito. E agora ela está aumentando um pouquinho também, tem o Rafa (meu namorado) que já é família, e tem o João (namorado da Ana), que não conheço ainda, mas que também está entrando pro bando... hehe. Esse ano o natal vai ser animado!



E claro que não posso deixar de falar dos jantares com os amigos, com o pessoal do laboratório, que a gente fica bebendo, cozinhando e conversando e comendo. Onde todos se arriscam a provar as minhas idéias mirabolantes, que por sorte até hoje só deram certo (salvo um episódio de um macarrão com molho de laranja, mas essa só o Renan sabe... hehehe). E é sempre muito gostoso, porque todo mundo está unido, tendo um momento de descontração, é família também... hehe.



E por falar no Renan (ex-namorado, e amigo pra toda vida e mais um pouco), não posso deixar de citar as nossas memórias culinárias. Aprendeu muito comigo na cozinha, me ensinou muito também. Cozinhamos juntos muitas vezes, rimos e bebemos, e até desenvolvemos uma idéia louca de uma saga culinária onde tentávamos fazer todas as receitas de macarrão que encontrássemos o que nos rendeu muitas macarronadas, mas que foi bem divertido. E faço aqui um aparte para a massa de pizza da madrugada, e o churros de domingo à tarde com receita da internet, muito bom também (idéia de Renan, claro!).



E tem também as yakissobas com o pessoal da lotérica, que estou devendo uma faz um bom tempo pra eles, mas se tudo correr bem, logo compro uma woki, e aí vai ser só alegria. Tem as vezes que cozinhava em Guaxupé no apartamento da Karen, onde ela e o Rodrigo eram minhas cobaias. Tem muita história boa com comida na minha vida, muita mesmo!



E agora, claro que não posso deixar de falar de duas pessoas em especial pra quem eu adoro cozinhar, minha mãe e o Rafa.



Vamos começar por mamãe que é dia das mães hoje! Cozinhar pra minha mãe é extremamente prazeroso, assim como eu ela aprecia demais comer, gosta de coisas diferentes, adora comprar livros de receitas, mas por falta de tempo não tem mais como cozinhar. Então sempre que eu posso, eu vou pra casa e faço algo que eu sei que ela adora, pra ver se ela come algo que não seja miojo só pra variar um pouco. E claro, ela sempre se acaba de tanta alegria.

Já o Rafa, ah... É ótimo cozinhar pra ele, ligar toda sexta pra ver se ele está com vontade de comer algo específico, vê-lo comendo creme de milho, sopa de feijão, purê de batata até falar chega, porque ele adora quando eu faço, é bom demais. Fora que toda sexta quando ele chega, eu ainda estou cozinhando, então a gente passa um tempão na cozinha conversando enquanto eu cozinho, quando eu deixo, ele me ajuda, e é sempre gostoso demais dividir isso com ele.



E aqui na Espanha, não é nada diferente, tudo é um bom motivo pra comemorar, chamar os amigos pra jantar, tomar um bom vinho, cada um traz uma coisa, cada um faz uma parte, e no final estamos sempre todos rindo, conversando, comendo, bebendo, e cantando, porque o pessoal aqui é muito musical, e a música aqui ganha novas conceitos, fantásticos por sinal. Todo mundo é super animado, tem muito carinho, muita felicidade entre os amigos.



Bem, acho que é daí que vem a minha paixão por culinária, ela une pessoas, está presente em boa parte dos momentos, é uma prática que pra mim está profundamente ligada a amor, carinho, zelo... Alimentar pessoas é um ótimo jeito de cuidar, amar e estar perto delas. Comer, cozinhar, amar e recordar é a melhor coisa que há.



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Comentários:

o vôo culinário da borboleta ..trocaremos receitas. bj 


kico tamberlini | 08-05-2011 09:26:26 

sábado, 7 de maio de 2011

A jornada

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- A jornada –

Foto tirada por uma estranha

Dedico essa aventura a minha família e ao meu namorado Rafael, que estiveram comigo o tempo todo naquela montanha, na cabeça e no coração.

Chega um dia na sua vida que você sai de casa pensando que vai fazer uma caminhada agradável pelas ruas, ou então conhecer no máximo uma praia, comer algo diferente, sei lá... E de repente seus companheiros de viagem te perguntam: “Você agüenta caminhar por muito tempo?” Eu não tinha idéia de quão perigosa podia ser essa pergunta... E então só disse “Sim, acho que sim!”



Durante a semana santa fizemos uma viagem para o norte da Espanha de quatro dias, as tão esperadas vacaciones do José Luís... hehe, para San Vicente de La Barquera. Uma cidade pequena, perto de muitos pueblos, e cercada de praias, natureza e montanhas.



Todas as manhãs acordar já implicava em surpresa, porque o José Luís (que vive no apartamento em que estou vivendo aqui em Toledo) sempre tinha algo novo pra comer típico da região, e além de tudo um super plano em sua cabeça do que faríamos naquele dia. Um super plano que sempre começava com a gente saindo de carro, e indo a um lugar mais ou menos perto, onde a aventura começava.



E isso me põe exatamente na parte em que uma manhã eu desperto e dou de cara com o José Luís me perguntando “Você agüenta caminhar por muito tempo?” e claro que quando eu respondi isso eu me imaginei numa trilha, num campo, num passeio de algumas horas a pé, em qualquer coisa, menos numa escalada a pé de mais de seis horas numa montanha. A vida é mesmo surpreendente às vezes!



Acho que nem preciso dizer às pessoas que me conhecem quão sedentária eu sou, e quanto é difícil pra eu pensar em qualquer coisa que exija esse tipo de esforço físico. Mas caramba! É a Europa, esse lugar tem muitas montanhas, são simplesmente muito lindas cobertas de neve, ou então de verde, agora nessa época mais quente. É uma coisa única na vida isso, nunca se sabe quando vai haver outro tipo de oportunidade como essa de novo. Então claro que eu tinha que me meter à besta e ir.



Sabe, enquanto se escala uma montanha dá pra pensar em várias coisas, a paisagem te inspira muito a pensar sobre a vida, as escolhas, as pessoas, tudo. E em alguns pontos é difícil a subida, principalmente pra pulmões e pernas como as minhas que não estão acostumados. Houve momentos em que eu tinha certeza que não ia conseguir, ou então pensava em desistir, e nessas horas eu só tenho a agradecer a um dos meus companheiros de escalada, Pedro, que não me deixou desistir em momento nenhum, me ajudou a subir às vezes, e fez com que eu conseguisse completar o trajeto todo.



Eu vi neve de perto, e peguei um punhado em minhas mãos, uma coisa que nunca tinha tido oportunidade de fazer, vi casas na montanha, vi árvores que crescem nas montanhas, e por fim, vi de perto o objetivo maior da escalada, o pico do Naranjo que é nada mais nada menos que perfeito e fez valer cada segundo da escalada, cada pensamento.



Na verdade acho que só as coisas que eu pensei e sobre as quais eu refleti a caminho já fizeram valer toda a jornada. E a descida assim como a subida não foi nada fácil, havia muita neve no chão e era muito escorregadio, e eu tinha muito medo de escorregar pro lado errado e cair do alto das montanhas. Mas a boa notícia é que se agora estou aqui escrevendo é porque isso não aconteceu.



Foi uma grande jornada, com muito companheirismo, conversas, momentos de silêncio e pensamentos, muitos quilômetros, muito verde, neve... Uma jornada de corpo e de alma também. Que eu vou lembrar pro resto da vida.



Naquela noite, eu não consegui dormir de modo algum, senti dores musculares e câimbras nas duas pernas durante a noite inteira. E no único momento que consegui cochilar eu sonhei que dizia ao meu pai que ele precisava me levar ao hospital porque as minhas pernas doíam muito. Engraçado como funciona a cabeça da gente. No dia seguinte eu não consegui andar o dia todo... E você me pergunta se eu faria novamente, e eu te digo, com certeza!