sábado, 7 de maio de 2011

A jornada

Vôos na Europa, dando uma de Alexander Supertramp de saias
- A jornada –

Foto tirada por uma estranha

Dedico essa aventura a minha família e ao meu namorado Rafael, que estiveram comigo o tempo todo naquela montanha, na cabeça e no coração.

Chega um dia na sua vida que você sai de casa pensando que vai fazer uma caminhada agradável pelas ruas, ou então conhecer no máximo uma praia, comer algo diferente, sei lá... E de repente seus companheiros de viagem te perguntam: “Você agüenta caminhar por muito tempo?” Eu não tinha idéia de quão perigosa podia ser essa pergunta... E então só disse “Sim, acho que sim!”



Durante a semana santa fizemos uma viagem para o norte da Espanha de quatro dias, as tão esperadas vacaciones do José Luís... hehe, para San Vicente de La Barquera. Uma cidade pequena, perto de muitos pueblos, e cercada de praias, natureza e montanhas.



Todas as manhãs acordar já implicava em surpresa, porque o José Luís (que vive no apartamento em que estou vivendo aqui em Toledo) sempre tinha algo novo pra comer típico da região, e além de tudo um super plano em sua cabeça do que faríamos naquele dia. Um super plano que sempre começava com a gente saindo de carro, e indo a um lugar mais ou menos perto, onde a aventura começava.



E isso me põe exatamente na parte em que uma manhã eu desperto e dou de cara com o José Luís me perguntando “Você agüenta caminhar por muito tempo?” e claro que quando eu respondi isso eu me imaginei numa trilha, num campo, num passeio de algumas horas a pé, em qualquer coisa, menos numa escalada a pé de mais de seis horas numa montanha. A vida é mesmo surpreendente às vezes!



Acho que nem preciso dizer às pessoas que me conhecem quão sedentária eu sou, e quanto é difícil pra eu pensar em qualquer coisa que exija esse tipo de esforço físico. Mas caramba! É a Europa, esse lugar tem muitas montanhas, são simplesmente muito lindas cobertas de neve, ou então de verde, agora nessa época mais quente. É uma coisa única na vida isso, nunca se sabe quando vai haver outro tipo de oportunidade como essa de novo. Então claro que eu tinha que me meter à besta e ir.



Sabe, enquanto se escala uma montanha dá pra pensar em várias coisas, a paisagem te inspira muito a pensar sobre a vida, as escolhas, as pessoas, tudo. E em alguns pontos é difícil a subida, principalmente pra pulmões e pernas como as minhas que não estão acostumados. Houve momentos em que eu tinha certeza que não ia conseguir, ou então pensava em desistir, e nessas horas eu só tenho a agradecer a um dos meus companheiros de escalada, Pedro, que não me deixou desistir em momento nenhum, me ajudou a subir às vezes, e fez com que eu conseguisse completar o trajeto todo.



Eu vi neve de perto, e peguei um punhado em minhas mãos, uma coisa que nunca tinha tido oportunidade de fazer, vi casas na montanha, vi árvores que crescem nas montanhas, e por fim, vi de perto o objetivo maior da escalada, o pico do Naranjo que é nada mais nada menos que perfeito e fez valer cada segundo da escalada, cada pensamento.



Na verdade acho que só as coisas que eu pensei e sobre as quais eu refleti a caminho já fizeram valer toda a jornada. E a descida assim como a subida não foi nada fácil, havia muita neve no chão e era muito escorregadio, e eu tinha muito medo de escorregar pro lado errado e cair do alto das montanhas. Mas a boa notícia é que se agora estou aqui escrevendo é porque isso não aconteceu.



Foi uma grande jornada, com muito companheirismo, conversas, momentos de silêncio e pensamentos, muitos quilômetros, muito verde, neve... Uma jornada de corpo e de alma também. Que eu vou lembrar pro resto da vida.



Naquela noite, eu não consegui dormir de modo algum, senti dores musculares e câimbras nas duas pernas durante a noite inteira. E no único momento que consegui cochilar eu sonhei que dizia ao meu pai que ele precisava me levar ao hospital porque as minhas pernas doíam muito. Engraçado como funciona a cabeça da gente. No dia seguinte eu não consegui andar o dia todo... E você me pergunta se eu faria novamente, e eu te digo, com certeza!



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