sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O cheiro do café

O cheiro do café

coffee_by_ironicna

De repente lembrou-se do cheiro do café, das manhãs de primavera, do sol na janela, e a sensação de abraçar a si mesma e dar bom dia ao sol. De repente tudo aquilo já nem era mais uma lembrança tão distante, era a sensação de tinha acontecido ontem.


Ainda lembrava exatamente da caneca ao sol, esperando calmamente pelo café, do filtro a coar, e da lembrança de infância do avô colhendo o café pra depois a avó moer. A vida nem parecia tão triste dentro dessa imagem. Era o raio de sol que iluminava a alma.


De repente só parecia ruim demais crescer, ruim demais não conseguir se olhar no espelho, ou aguentar as verdades e o peso do mundo calada. De repente o silêncio era um monstro, que devorava ela inteira de dentro pra fora, e quanto mais pedaços ela perdia, mais pedaços queria perder, até sumir, de uma vez por todas.


Diziam que o amor era a salvação, mas a verdade é que não havia mais amor para salvar, nem por si mesma, nem por ninguém. O amor era a mentira bonita dos livros, era a mão que calava a boca dos insatisfeitos e infelizes. Ela não tinha mais amor, não precisava dele.


De repente ela só queria estar ali, sentir o cheiro do café, morar naquela lembrança, para sempre.