quarta-feira, 18 de junho de 2008

O destino

Destino

tarot_cards_by_decima



Caminhou por várias quadras com o pequeno pedaço de papel em suas mãos, olhando constantemente para ele, precisava saber se estava seguindo o caminho certo. Segurava-o como se fosse um precioso tesouro, a passagem para o paraíso.

Cabelos ao vento, o sol por entre as árvores tocando de leve seu rosto como um doce afago, como dedos quentes e macios, os quais faziam tanta falta a ela. Gostava de sentir-se aquecida por aquela imensa estrela matutina, por aquele brilho todo que fazia com que ela se sentisse viva e parte do mundo.

Faltavam poucas quadras agora, era apenas uma questão de tempo até ela finalmente ter as merecidas respostas. Tinha em si todas as perguntas do mundo, mas nem sequer uma resposta. Mas com certeza aquele lugar teria as respostas, com certeza elas estariam todas lá, esperando pela sua visita, pelas perguntas certas.

Era ali, lá estava ele, o pequeno portão que dava para um estreito e longo corredor cujo destino final seria uma casinha simples, com a pintura das paredes desgastada pelo tempo e levemente embolorada.

Respirou fundo, olhou para o papel novamente e depois para o número da casa. Era mesmo o lugar certo, sem dúvida alguma.

Bateu palmas a fim de desviar a atenção de algum habitante da casa para a sua presença.

Não era o tipo de pessoa que gostava de chamar ou gritar nomes. E por fim, após longos cinco minutos de palmas foi atendida por uma senhora de cerca de 60 anos que perguntou o seu nome e pediu pra que ela entrasse.

Ao adentrar a sala e sentar-se no sofá velho ela logo percebeu que se tratava de uma casa sem nenhum tipo de luxo. A decoração da casa era baseada em bibelôs mal pintados, fotografias pintadas à mão, almofadas coloridas e uma cortina florida dentre outras coisas que deixavam mais que claro o fato de se tratar de um lar simples, de pessoas simples e humildes.

Ela esperou pacientemente a hora certa, com as mãos sobre os joelhos, olhando pra uma criança de cerca de dois anos que brincava dentro de seu berço, e analisando cada pequeno detalhe daquele cômodo que agora se revelava como uma nova aventura e lugar a ser descoberto por ela. Como se ao passar por aquela porta tivesse adentrado um mundo que era completamente diferente do seu. Coisas novas despertavam sua curiosidade, e ela, educada, mascarava isso com um contido sorriso no rosto, que aos olhos de um estranho nada mais era do que um agrado ou simpatia.

Não demorou muito para que uma moça descesse as escadarias em direção a ela. Era jovem e parecia ter uns trinta anos no máximo, tinha um ar de menina-mulher, cabelos longos, olhos escuros. Totalmente diferente do que ela havia imaginado que encontraria. Sua fértil imaginação esperava por uma senhora de cabelos quase completamente brancos, com um ar de sabedoria e mistério, o que fez com que ela sentisse um certo desapontamento seguido de mais e mais curiosidade.

Os milhares pensamentos encerraram-se no exato instante em que ela ouviu a jovem dizer a ela “Está pronta? Vamos?”. Só então se deu conta de que não estava paciente, estava na verdade demasiadamente ansiosa e tensa, e que o nó no estomago estava lá mais uma vez, consumindo-a.

Será que estava pronta? Não sabia. Mas era uma decisão sem volta agora, ela já caminhara até ali, e não podia expressar medo, ou surpresa, ou o que quer que fosse. Tinha de ser uma estatua, um enorme pedaço de cerâmica, tinha que ser fria e inexpressiva, qualquer reação poderia colocar tudo a perder, poderia mudar tudo.

Subiu as escadarias tentando conter o tremor das mãos e pernas, tentando lutar contra o nó, e equilibrando em si a curiosidade e o medo do desconhecido. As escadarias levavam até uma porta, e atrás desta havia o quarto.

A jovem abriu a porta e pediu pra que ela entrasse, e quando se deu conta suas próprias pernas já haviam feito com que ela chegasse à cama, na qual já estava sentada. Foi tudo muito rápido, ela mal conseguia se lembrar como fora parar ali. Estava realmente tensa.

“Não cruze as pernas e nem os braços, por favor”. Disse a jovem olhando-a nos olhos. E ela como muito pouco entendia daquela situação, descruzou-os.

O quarto era pequeno, branco e desgastado como a sala e o lado de fora da casa. Tinha alguns quadros pendurados na parede, não eram belos, e nem dignos de muita atenção. A sua atenção na verdade estava dividindo-se entre a cômoda que fazia parte do plano de fundo, repleta de imagens de anjos e santos, e a jovem dos cabelos longos que estava sentada bem de frente pra ela, em uma outra cama.

Entre as duas havia uma pequena mesinha, da altura de seus joelhos mais ou menos.

Percebeu que aquele era o momento em que finalmente as respostas viriam até ela.

Percebeu, pois a jovem jogava sobre a pequena mesinha uma toalhinha repleta de estampas e crochês. E logo em seguida abriu uma caixa de onde tirou o precioso bem, o instrumento da verdade, o que naquele instante ela enxergava como um oráculo.

Não, não era apenas um baralho, não era como aqueles baralhos de mesas de bar e de praças públicas. Era a fonte mágica que jorrava respostas se fossem feitas as perguntas certas. E ela tinha milhares de perguntas.

“Corte com a mão direita”. Disse a jovem enquanto embaralhava a pilha de cartas e passava esta dentre outras instruções a ela.

“Há algum tipo de assunto sobre o qual você não queira saber?”.

“Saúde”. Respondeu timidamente, fixando seus olhos nas cartas do baralho.

Depois disso cortou inúmeras vezes o baralho, em cada momento pensando em um aspecto de sua vida, em uma pessoa, em um sentimento ou pergunta.

E aparentemente descobriu que a estrela da fortuna praticamente brilhava em sua direção.

Teria sucesso profissional, teria dinheiro, as pessoas a invejariam.

Mas nada disso importava, o que a preocupava era seu coração, seu pobre, frágil coração solitário, carente de um amor de verdade.

Ela era bela, extremamente bela, cabelos escuros, olhos claros, um rosto de menina, corpo bem moldado de mulher. Não era difícil arranjar companhia, difícil mesmo era amar. Uma noite ou duas nunca foi o bastante. Ela queria sentir-se amada, verdadeira e intensamente amada.

Então a jovem cartomante embaralhou mais uma vez o baralho. Tensa ela cortou-o com a mão direita, pensando que não podia errar no corte, caso contrário seu destino mudaria juntamente com a altura do corte.

Três cartas sobre a mesinha. Olhava pra elas sem saber o que pensar e o que elas diziam.

Lutava para manter a semblante calmo, o rosto inexpressivo.

“Ele vem de longe. É diferente de você, muito diferente. É calado, tímido, ar sério. Tem cerca de uns 26 anos, já é um homem. Acontecerá tudo muito rápido, quando vocês perceberem já estarão noivos, logo casados e com filhos. Apesar de totalmente diferentes, vocês irão equilibrar-se num contraste divinamente perfeito”.


“Muitas mulheres irão tentar tomá-lo de você, mas ele só terá olhos pra você, ele irá amá-la intensamente, com todas as forças de seu coração, e nunca olhará pra outra mulher”.


Bastou a ela ouvir aquilo para que seu peito se enchesse de esperança. Naquele exato instante, em algum lugar no mundo vivia a pessoa perfeita pra ela. E ela perguntava-se como ele seria, como seria seus olhos, seu cheiro, seu sorriso. E pensar nisso fazia com que ela quisesse sorrir, abrir um sorriso do tamanho do universo, mas não podia, devia conter a felicidade que gritava incessantemente pra sair, devia manter-se inexpressiva por apenas mais alguns minutos, caso contrário a jovem cartomante poderia usar aquilo a seu favor.

Depois disso não ouviu mais nada, qualquer previsão ou resposta não lhe importava mais, sabia o que queria, não ia envelhecer sozinha. Sua vida não seria uma busca eterna pela outra metade, pelo contrário, ele estava a caminho, e a encontraria em breve, a salvaria do vazio.

Pagou o preço justo pelo doce destino revelado, desceu as escadarias, atravessou o estreito corredor e logo estava novamente na calçada. De volta ao seu velho-novo mundo.
Sentia o vento em seus cabelos, e o sol em seu rosto doce, aquecendo-a, da mesma forma que um dia Ele faria. E sorriu, sorriu colocando pra fora a felicidade gritante que a habitava, mostrando ao mundo que se sentia esperançosa, que se sentia viva.

Estava consciente de que nunca mais voltaria ali, nunca mais veria a jovem cartomante. Ela já tinha o seu destino, e estava perdidamente apaixonada por ele, não precisava de outro diferente desse.

Muitos meses se passaram, e em uma noite de sexta-feira ele finalmente apareceu na vida dela. Eles amaram-se desde o primeiro instante. E o amor foi crescendo, crescendo, e seguindo rumo ao destino que previu a jovem cartomante.



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Comentários:

A magia existe enquanto um conhecimento que não temos a respeito do mundo se mantém encoberto. É dela que vem aquele fascínio infantil que nos invade quando estamos diante de uma coisa que não entendemos e que aos nossos olhos parece tão fantástica. O destino é uma dessas "coisas fantásticas". Alguns o consideram uma força, outros uma entidade a tecer uma colcha de retalhos sem começo nem fim. Mas no fundo, não importa. O que realmente importa é que ele ainda é algo que não conhecemos totalmente, e que muitas pessoas tentam entender através de técnicas pra obter algumas dicas diretamente dele, sobre o que ele pretende fazer com alguns dos retalhos que compoem essa enorme colcha. As cartomantes podem ser vistas como uma dessas pessoas que tentam desvendar o funcionamento do destino. Claro que há as charlatãs, mas, se o destino é algo que se mostra tão presente em nossas vidas, ele pode perfeitamente ser uma força/entidade que, aos poucos, a gente passa a entender. Mas isto não tira de nós o poder de moldá-lo. 


Rodrigo Ferreira | 18-06-2008 16:50:32 

sábado, 14 de junho de 2008

O Carvalho

O carvalho

necropolis oak by aniolova

Escreveu e enviou inúmeras cartas, diversas vezes foi ao correio para checar se elas realmente haviam chegado ao seu destino, e confirmou o que temia, todas elas foram devidamente entregues. Mas por que ela não as respondia? Por que não conseguia encontrá-la?

Dias se passaram, semanas, meses, e nem sequer um sinal dela, uma resposta, ou qualquer coisa que indicasse que ela estava viva e bem.

Ele estava cada vez mais preocupado, ela não retornava suas mensagens, e-mails, ligações, nada. Era como se ela simplesmente tivesse desaparecido da face da Terra, e ele tentava resgatá-la, aproximar-se, salvá-la, mas cada vez mais ela parecia apenas um sonho, uma ilusão criada por sua mente, algo que na realidade nunca havia existido, como uma alucinação convincente a ponto de fazê-lo acreditar que era real, palpável.

Estava distante demais, não havia mais controle sobre a situação.

Ele não conseguia entender, fizera tudo certo, sabia que fizera. Comprou as alianças, esperou a hora que lhe pareceu mais perfeita, ela sorria pra ele, estava feliz, eles adormeceram abraçados e felizes como sempre.

Dias depois precisou partir de volta pra sua casa, mas logo ele voltaria, seria apenas por um mês e meio, nada com o qual eles já não estivessem acostumados. Tudo ocorreu como de costume, diversas lágrimas na rodoviária, ele abraçando-a forte enquanto ela chorava, prometendo voltar logo, pedindo que ela fosse forte. Mal sabia que essa seria a última vez que a veria e ouviria sua voz, sentiria seu cheiro, o cheiro de seus belíssimos cabelos ruivos, ou até mesmo o maldito cheiro dos cigarros mentolados dela.

Estava enlouquecendo, preso ao seu trabalho, querendo encontrá-la de qualquer forma, e não conseguindo fazer tanto quanto sabia que era capaz de fazer. Toda a noite antes de dormir pensava em pegar um ônibus durante a madrugada e seguir em busca dela, dos seus perfeitos cabelos ruivos, dos seus olhos verde-acinzentados. Mas não podia, não podia. Então esperançoso tentava mais uma vez ligar pra ela, mandar uma mensagem, mas a resposta era sempre a mesma, caixa postal. E mais uma vez ele dormia preocupado, mal, e amanhecia com enormes e fundas olheiras.

Ela não queria ser encontrada, não queria ser salva, já havia sido quase totalmente engolida por aquele buraco negro que nascera dentro dela. Era fundo demais, e mesmo que esticasse o máximo que pudesse seus braços, talvez não fosse mais possível resgatá-la. E ele sabia disso, mas não aceitava de forma alguma.

Ela precisava lutar, ele precisava encontrá-la, dizer isso a ela, que ele estava ali, que a ajudaria, que tudo ia ficar bem, que a magia do início voltaria a ser real. Ele precisava mostrar a ela que ela tinha força, que merecia ser feliz. Mas ela não deixava que ele o fizesse.

Dias e mais dias se passaram, e junto com eles noites em claro, refeições mal ou não feitas, pensamentos longínquos, medo, preocupação constante, até que finalmente tomou coragem e pediu uns dias de folga para seu chefe a fim de resolver um problema urgente, e os conseguiu obviamente.

Na mesma tarde comprou uma passagem rumo à cidade dela. Finalmente ia ver de perto o que estava acontecendo, ia poder intervir da forma realmente necessária, e lutar pra ajudá-la como ela merecia.

No dia seguinte já havia chegado ao seu destino, pareceu-lhe a viagem mais longa de toda sua vida. Mas agora estava diante da porta do apartamento dela, olhando para fechadura, tomando fôlego antes de bater. Bateu uma, duas, cinco vezes, e ninguém atendia, chamou por ela, nada.
Olhou para suas malas, para a fechadura, pensou em arrombar a porta, mas não demorou muito pra que percebesse que a porta estava destrancada. E foi logo entrando, deixando as malas na porta e correndo em direção ao quarto, temendo o que poderia ver, mas ela não estava lá.

O quarto estava completamente desarrumado, a cama desfeita, milhares de maços de cigarro jogados pelo chão, a escrivaninha tomada de cartas escritas por ele, sim, ela lera todas, mas nunca sequer se dera ao trabalho de respondê-las. Algumas possuíam borrões de tinta, como se tivesse chorado ao lê-las. Ele não entendia.

Aterrorizado caminhou até o banheiro, onde os encontrou, e chorou como uma criança desesperada que acabara de perder a mãe, chorou alto, soluçando. Sentiu-se invadido por um frio imenso que vinha da base de sua coluna até o ponto mais extremo de sua cabeça.

O que ela fizera consigo mesma? Por quê?

Por que cortara todo seus lindos cabelos? Por que havia marcas de sangue no chão do banheiro?

Sentiu suas pernas trêmulas, um vazio enorme, como se tivesse absorvido todo aquele resto de tristeza que ela deixara ali. Sentiu-se sugado por aquela tristeza toda, e como que tentando agarrar-se a algo além daquilo, segurou em suas mãos desesperadamente os retalhos de cabelo que ela deixara na pia do banheiro, ainda tinham o mesmo cheirinho doce, exatamente como ele se lembrava.

Deitou-se na cama por uns instantes, ainda segurando os cabelos que outrora faziam parte do corpo dela, encostou a cabeça no travesseiro que ela costumava usar, ainda tinha seu cheiro, fechou os olhos, e parecia que voltara para aquela noite mágica na qual a pedira em casamento e colocara delicadamente em seu frágil dedo a aliança.

Ouviu o som alto de uma buzina de um carro que o trouxe de volta ao presente. E deu-se conta de que precisava encontrá-la, que não podia prender-se aquela nostalgia toda. Levantou-se bruscamente e seguiu rumo a porta, sem saber exatamente por onde começar a busca, mas sabendo que era preciso apenas um primeiro passo, e que a partir dele, os outros ficariam mais fáceis de serem dados. E assim o fez.

Procurou-a por toda a cidade, vagou o dia e a noite toda por praticamente todas as ruas, até estar completamente exausto e sem saber mais pra onde ir.

Quando finalmente viu diante de si uma ruazinha deserta, com apenas um poste de luz, que iluminava um banco qualquer, no qual pensou em sentar por alguns minutos a fim de descansar as pernas que agora latejavam de dor, bem como seus joelhos e costas.

E ali ficou, olhando ao seu redor as folhas no chão, a sua própria sombra, e pensando nela, em onde poderia estar naquele exato instante, e porque havia desistido tão fácil do amor dos dois. Era tudo tão perfeito entre os dois, não havia falhas e nem mesmo espaços vazios, e isso dificultava as coisas, fazia com que ele não entendesse os motivos dela, com que não aceitasse aquela condição que lhe fora imposta da noite pro dia sem sequer uma satisfação. Era o benefício da dúvida que o atordoava, a incerteza, a eterna incerteza que fazia com que ele se sentisse caminhando no escuro, sem ter nada para se apoiar.

Um gato mexendo em uma folha seca fez com que sua mente voltasse ao presente, e com que ele olhasse para trás e percebesse que estava diante dos portões de um cemitério. Há tempos não entrava em um cemitério, a última vez que o fizera estava com ela, e os dois caminhavam por entre os túmulos discutindo sobre a vida e a morte, e sobre como era linda aquela beleza triste dos cemitérios, parando vez ou outra pra admirar um túmulo e imaginar como seriam aquelas pessoas quando em vida, com que tipos de coisas sonhavam, ou se eram felizes, coisas vagas apenas.

Olhou pras gigantescas e assustadoras pilastras que sustentavam a imponência de dois anjos enormes. Sentiu um forte frio subir pela espinha, mas não forte o bastante pra convencê-lo de que não devia empurrar os portões e adentrar a morada silenciosa.

Empurrou com força os portões, que fizeram um barulho extremamente alto em meio aquele silêncio todo da rua abandonada. Passou seu corpo magro, por entre a fresta aberta do portão e seguiu caminhando calmamente pelos túmulos, olhando para as estatuetas e lápides, ouvindo o silêncio e a brisa leve da noite. Caminhava distraidamente, olhando vez ou outra para o chão, para o céu e as árvores.

Quando avistou um lindo carvalho, imenso, frondoso, com as folhas reluzentes que refletiam o intenso e perfeito brilho do luar, daquela noite sem nuvens e na qual o céu parecia um cobertor cravejado de diamantes.

O carvalho tinha raízes imensas e fortes, além de um tronco rígido e que equilibrava perfeitamente todas aquelas folhas e galhos, distribuídos perfeitamente, ao longo de toda sua estrutura.

Passou um longo tempo admirando cada detalhe do carvalho, boquiaberto com tamanha beleza, equilíbrio e perfeição sob forma arbórea.

Quando finalmente voltou o seu olhar para o lugar em um todo ele viu algo que o deixou realmente intrigado, parecia ser um... um... um maço de cigarros, cigarros mentolados.

“Oh céus não!” Pensou desesperado. “Não, não, por Deus não!” Mas por mais que implorasse pra que aquela visão fosse apenas uma ilusão, uma peça pregada por sua mente cansada, era real.

E não demorou muito para perceber que ao lado do maço, sob a sombra do frondoso carvalho, escondido atrás do imenso tronco, repousava o corpo de sua princesa dos cabelos de fogo, dormia tranqüila. Magra, muito mais magra que o normal, pálida, cabelos tortuosos devido aos cortes impensados. Suas mãos repousavam doces entre os seios, ela ainda usava a aliança. Ele sorriu com o canto da boca ao vê-la no seu dedo.

Tentou abraçá-la, trazer o corpo dela pra perto do seu, assim poderia aquecê-la, salvá-la. Mas foi inútil, não havia mais tempo, apesar de parecer dormir ela devia estar morta há dias. Ele estava em choque, não conseguia sequer chorar, ficou horas em silêncio abraçado ao corpo dela, pensando em uma solução para o insolucionável. Mas não havia nada a ser feito, a chama dos cabelos de fogo da princesa apagara-se, e com ela o brilho de seus olhos.

Após horas ali, percebeu que ao lado dela havia um pequeno pedaço de papel, dobrado exatamente da mesma forma como cuidadosamente ela dobrava os bilhetes que sempre deixava na mala dele.

“Nunca foi amor de menos, era sempre demais, um amor inesgotável, inexplicável, era amor na sua forma mais pura e concentrada, era amor de criança, amor pra uma vida toda.

Talvez você nunca me perdoe ou me entenda, talvez você me esqueça no dia seguinte.

Peço desculpas pelas cartas não respondidas, e por não lhe enviar a única resposta que resolvi dar depois de meses a você. Peço desculpas pelo sumiço, por toda a preocupação e infelicidade que estou certa que causei.

Mas saiba, nunca foi amor de menos, sempre foi amor demais, mas junto com ele medo demais, insegurança demais, saudade demais, distância demais. E tudo tornou-se... insuportável demais. Sinto muito, amor meu.”

Finalmente ele entendera, ainda não conseguia aceitar, não se conformava com a forma como tudo aconteceu, mas entendera.

Ia sentir falta dos cabelos de fogo dela, do sorriso iluminado, do cheiro e da pele macia. Mas nunca ia desistir de tentar sempre lembrar dela da maneira como sempre a via, uma eterna vivente, capaz de captar todo e qualquer tipo de beleza efêmera e eternizá-la. Ele entendera. E isso, naquele momento era o bastante, era o primeiro passo da longa e pesarosa jornada que viria a partir daquele instante.


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Comentários:

Sabe, no momento em que ele senta-se diante dos portões do cemitério e houve, assim como ela, no outro conto, o barulho do gato brincando com a folha seca, cheguei a pensar que, felizmente, ele havia chegado a tempo. Que a cena se passava alguns minutos após a entrada dela no cemitério, no final do conto "Amnésia". Mas, era só uma "ilusão auto-imposta". O mundo muitas vezes nos parece tão cruel em sua forma como trata pessoas que querem ser felizes, que a gente acaba nutrindo um pouco de esperança em ver finais felizes mesmo em ficções que apontam para um final trágico. Criou-se um contraste aqui, entre uma dependente de amor, e um dependente de vida. Entre o desespero incontrolado de sentir-se amada, e a paciência, a duras penas, controlada para que fosse capaz de aguardar um novo encontro, que não veio. O que veio foi um encontro entre presença e ausência. E embora o final tente passar um pouco de esperança, um amor tão grande não deixa nada mais que um vazio imenso no lugar de onde foi arrancado. Triste... 


Rodrigo Ferreira | 16-06-2008 12:23:09
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Ao longo dessa minha vida toda eu aprendi a ver beleza até nas coisas mais tristes. E de certa forma, é esse tipo de beleza uma das mais verdadeiras, pois nessa vida, a tristeza é uma das poucas coisas livre de máscaras. E como você mesmo uma vez me disse Rodrigo, talvez colocar isso pra fora sob forma de texto ajude distanciar essas coisas de mim, coisas que não deixam de ser medos. 


Tati | 16-06-2008 14:29:33 

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Amnésia

Amnésia

Foto de Tati in the sky

Estava sentada num banco qualquer em frente a um cemitério qualquer, já não se lembrava mais ao certo como foi que chegara ali. Estava fraca, pálida, magra, olheiras imensas de quem há dias não dormia. Estava com medo de sonhar, precisava ficar acordada, não queria sonhar, recusava-se a sonhar.

A única força que existia dentro dela naquele instante estava empenhando-se em abraçar com força os próprios joelhos e lembrar-se de como fora parar naquele lugar.

Suas lembranças eram como borrões, ou melhor, como fotografias borradas. A casa, o quarto, as cartas, as fotografias cheias de formas disformes, de cores sem cor, pássaros de origami, Ele, mas quem era ele?

Quem era aquele homem deitado em sua cama? De onde ele veio? Ela o conhecia?

Sua cabeça agora sofria de fortes pontadas, pensar naquela pessoa a deixou inconscientemente atordoada. Então decidiu apenas concentrar-se no que havia ao seu redor. Tratava-se de uma rua completamente abandonada, muito mal iluminada, na verdade ela estava sob o único poste que havia ao longo da rua toda. A suas costas estavam os portões do cemitério, imponentes, convidativos. Ao lado dos portões havia duas pilastras com gigantescas estatuetas de anjos, que na verdade apenas indicavam ser anjos devido à presença de asas, caso contrário ela mesma diria que aquelas enormes estatuetas tratavam-se da própria visão da morte sobre camadas de cimento. Observou-as atentamente por alguns segundos, e seus olhos pareciam reais, o que fez com que logo ela desviasse os dela com medo e voltasse a se concentrar em como fora parar naquele lugar.

Não demorou muito pra que percebesse que estava toda suja, arranhada, roupas rasgadas, toda despenteada, como se há dias estivesse ali naquele lugar sem nem mesmo se dar conta disso.
Não demorou muito pra que as "lembranças fotográficas" voltassem a atordoá-la. O banheiro, as unhas, os tornozelos sangrando, a pia do banheiro, a escrivaninha cheia de papéis, e Ele, o desconhecido.

Não fazia nenhum sentido, nada fazia sentido.

Escutou um ruído ao seu lado que a trouxe de volta pra realidade, assustou-se, mas era apenas um gato brincando com uma folha seca, só isso.

Devia haver uma forma de ligar as coisas, de conectar todos aqueles borrões em uma coisa só, de transformar tudo aquilo em algo mais dinâmico que meras imagens picadas em sua mente.
Apalpou o bolso de sua calça, eles ainda estavam ali, os velhos cigarros de menta. Apalpou o outro bolso e encontrou o isqueiro. Tirou um cigarro de dentro do maço, acendeu-o calmamente, tragou profuuuuundamente, soltou a fumaça de-va-gar, beeem devagar. Apoio a mão com o cigarro no joelho, abaixou a cabeça e analisou os cortes de seu tornozelo friamente, tentando lembrar se ela mesmo os fizera.

Tragou mais uma vez o cigarro, toda aquela menta a acalmava, a ajudava pensar melhor, mente aberta, levemente entorpecida. Sim ela fizera aquilo, fizera friamente num acesso de raiva, como um animal, irracional, passional. Partes dos borrões começavam a se unir, e agora ela via, via a si mesma sentada sobre a cama, olhos vermelhos de choro e com enormes olheiras, inúmeros maços de cigarros sobre o criado-mudo e espalhados pelo chão, estava ansiosa, impaciente, olhando para as próprias unhas, e sentindo a intensa dor que a consumia e corroia como o mais forte de todos os ácidos, e então ela o fez, rasgou todo o tornozelo, numa tentativa insana de amenizar as dores internas, de distrair a mente do real problema, rasgou uma, duas, dez vezes...

Descontente caminhou até o banheiro, pegou a navalha, e cortou boa parte dos cabelos. E saiu correndo, batendo portas, passando por ruas e mais ruas, apenas borrões e figuras desfiguradas, sem saber ao certo pra onde ir, inúmeras vezes tropeçou, caiu e levantou-se e continuou correndo, fraca e desesperadamente, até tudo não passar de um buraco negro imenso dentro dela, e de muros e mais muros ao seu redor.

E agora, estava sentada ali, lembrando-se finalmente como fora parar lá, como chegara diante daquele cemitério, e finalmente entendeu que inconscientemente seu corpo a levara até ali porque sentia que estava morrendo. Seus pés a levaram para lá porque todo o resto estava ruindo.

Mas ainda havia coisas que não faziam muito sentido. Quem era Ele? Quem era o homem na sua cama?

E mais uma vez lá estavam elas, as intensas pontadas na cabeça, agora acompanhadas de uma sensação de frio, e tremores.

Por que não conseguia se lembrar?

Talvez se acendesse mais um cigarro... Quem sabe a menta... Quem sabe...

E ali sentada à meia luz, tirou mais uma vez o maço de cigarros do bolso, e deu-se conta de que havia apenas mais dois cigarros, tombou de leve o maço para tirar o cigarro que parecia estar preso, e então em sua mão caiu algo que estava bem longe de ser um cigarro...

Ela olhou atentamente para ela, parecia familiar, mas não conseguia entender porque estava justamente ali, naquele maço amassado de cigarros. Ela brilhava intensamente, a espera de cumprir o seu papel e finalmente encaixar-se no dedo ao qual pertencia, mas não foi isso que aconteceu.

A dona da aliança acendeu mais um cigarro, tragou com força e soltou a fumaça devagar, e analisou o anel, bem como o que havia escrito em seu interior "Por todo sempre".

Mais alguns borrões agora tomavam formas, e finalmente as respostas vieram por completo.
Ele estava diante dela, ajoelhado em sua cama, olhando-a nos olhos firmemente, haviam acabado de fazer amor, o quarto estava repleto de velas, quando ele caminhou até a sua mala, e a pegou, ajoelhou-se mais uma vez diante dela, e era tão intenso o amor, como o amor de dois deuses, e então ele pegou sua mão, e disse "Por todo sempre, assim que deve ser".

Ela sorriu, estava inundada de felicidade.

E ficaram ali abraçados, até finalmente dormir.

Depois disso se lembrava de muito pouco, apenas coisas como a distância, a insegurança, o medo, a rotina, dia após dia sentindo-se sozinha e recorrendo a lembranças. E isso a fez entender porque pensar nele fazia com que ela se sentisse tão fisicamente mal, porque ele era a droga, o vício, ele era a loucura e a razão, ambas fundidas em um só ser.

Acendeu seu último cigarro.
Lembrou do cheiro dele, da pele, da voz.

Ela definitivamente enlouquecera com tudo aquilo, com todo aquele amor guardado pra si, ela ficara louca e amarga.

E estar naquele quarto, naquela casa, cercada de coisas que lembrava cada vez mais e mais o amor deles estava matando-a, ela estava morrendo, e por isso tentou contra si mesma, por isso seus pés a conduziram a aquele lugar.

Ela finalmente entendera tudo, ela não estava ali por acaso.

Levantou-se devagar, seguiu rumo aos portões do cemitério, olhou pras duas imponentes e gigantescas estatuetas, empurrou os portões devagar, e seguiu rumo a liberdade.




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Comentários:

Sabe o que seria interessante? Uma versão da história sob o ponto de vista do Ele/droga, e como Ele encarou tudo o que ocorreu a ela. No início do texto, com a atenção que a narrativa dá ao cemitério, fui levado a crer que o Ele estava enterrado ali, ou em qualquer outro cemitério, o que, no final das contas, daria na mesma, já que seria apenas um lembrete do que ela não tinha mais. Mas, fica vago o destino do Ele, e como lidou com isto, se tentou ajudá-la ou não, se tentou salvá-la de si mesma e, caso tenha tentado, o porquê de ele ter fracassado. O texto perturba por dar à personagem uma noção melhor do que lhe acontece a si mesma, ao mesmo tempo que poupa/impede o leitor de preencher mais algumas lacunas. Se a intensão era esta, conseguiu cumpri-la muito bem. 


Rodrigo Ferreira | 11-06-2008 17:50:17

terça-feira, 10 de junho de 2008

A cura

A Cura


White Lilacs de the pearl-piper

Inclinou o corpo cansado, ofegante, e colocou as mãos sobre os joelhos tentando recuperar as forças e a respiração. Estava diante da cabana, finalmente.

A floresta era densa, as copas imensas permitiam que apenas pouquíssimos feixes de luz chegassem ao solo. Havia uma grande quantidade de arbustos repletos de espinhos, galhos e folhas secas cobrindo todo o chão.

Seu desespero era imenso, corria desesperadamente, enxergando apenas borrões. Enroscou-se em um galho e caiu em meio aos arbustos espinhosos, arranhou-se todo tentando sair da armadilha natural. Não havia tempo, retomou a corrida, agora com os braços, pernas e rosto cortados e sangrando, mancando. Não podia desistir, não agora que havia ido tão longe.

As pernas começavam a ceder, corria aos tropeços, apoiando-se nas árvores, tentando manter sua respiração controlada. Doía-lhe o corpo, tinha as largas vestes rasgadas, mas acima de qualquer coisa estava determinado, sabia exatamente qual era o seu destino, apesar do corpo fraco o coração ainda mantinha-se forte.

Parecia que ele podia ouvir o som da cachoeira. Ainda que distante isso lhe renovou as forças e fez com que corresse mais e mais rápido rumo a sua água cristalina na qual banhavam-se as borboletas e beija-flores.

À medida que avançava as árvores começavam a ficar mais e mais escassas e floridas, o que no primeiro instante fez com que ele diminuísse a velocidade e logo estava apenas mancando e apreciando as lindas copas repletas de flores, como um enorme acolchoado divino, rosas, laranjas, amarelas, azuis e violetas. E o perfume, ah o perfume, era embriagador.

Sentia-se caminhando sobre as nuvens, no paraíso, a grama fofa sob seus pés, as flores que mais pareciam um acolchoado de nuvens sob forma de flor, regadas de borboletas e beija-flores. Estava hipnotizado pela beleza quando se lembrou da cabana. Céus, como pôde se esquecer? A cabana, o destino, a cura.

E pôs-se a correr novamente, e aos poucos as lindas flores celestes foram ficando pra trás junto com seu perfume embriagador. E o som da cachoeira foi aproximando-se cada vez mais e mais de seus ouvidos, no início como um doce sussurro e logo como uma canção. Uma doce canção, uma canção de amor.

O próximo desafio era encontrar o lugar certo, a entrada secreta da gruta que levava a cachoeira. Tentava lembrar-se, ele a vira em seus sonhos, mas era algo tão vago em sua memória, faltava algo e ele sabia disso.

Analisou cada pedacinho da paisagem que estava diante dos seus olhos, o paredão de rochas gigantesco, coberto por heras venenosas, as pequeninas flores branquinhas no chão, e o som da cachoeira, exatamente como no seu sonho. Fechou os olhos, e deixou-se guiar pelos instintos, pelo olfato, audição, e principalmente, deixou-se guiar pelo seu desejo de conseguir aquilo que o levara até ali. E finalmente, sob inúmeras camadas de heras encontrou a entrada da gruta.

E lá estava ela, finalmente, a cachoeira de água cristalina, parte da cura, da salvação. E nas rochas próximas a ela um raro tipo de flor, uma linda flor branca e rósea de um perfume sem igual, um perfume que nunca sentira em toda sua vida. E essa tão preciosa e rara flor era exatamente o que o levara ali.

Apanhou um bocado delas, colocou em sua bolsa, e encheu seu cantil com aquela água extremamente pura. E apesar de cansado, e admirado com toda a beleza e paz que aquele lugar trazia, ele sabia que era hora de partir e que seu caminho seria longo, e o anoitecer estava por vir.

Voltou correndo o máximo que pôde, a dor na perna era mais intensa agora, e já não conseguia mais correr no mesmo ritmo de antes. Usava os braços para afastar os galhos, e constantemente olhava para a bolsa a fim de saber se a água e sua rara flor não sofreram nenhum dano.

O sangue há muito já havia coagulado, novos cortes foram feitos, e novos rasgos em suas vestes, mas não se importava com isso, era irrelevante.

Já estava novamente em meio à parte densa da floresta, e a noite chegara rápido demais, pensamentos sombrios começavam a querer dominar sua mente, e ele cansado, surrado pela floresta sentia uma dificuldade tremenda em não se entregar a eles. Apavorado, correu mais e mais gastando assim as suas últimas energias.

Sentia-se cego, estava sendo guiado apenas por seu instinto e necessidade de encontrar a cabana. Perdera a noção de distância. Quando...

Inclinou o corpo cansado, ofegante, e colocou as mãos sobre os joelhos tentando recuperar as forças e a respiração. Estava diante da cabana, finalmente.

Abriu a porta ansiosamente, ela ainda estava lá, deitada na rústica cama, doente.

Procurou pela cozinha um vidro qualquer, colocou as flores, macerou-as o máximo que suas mãos cansadas e doloridas conseguiram, e misturou-as a pura água da mais bela cachoeira que já vira. Aproximou-se da cama vagarosamente, sem fazer nenhum ruído, ela ainda respirava, fraca e quase imperceptivelmente.

Deu-lhe de beber o remédio, tomando cuidado para que ela não se engasgasse. E esperou, esperou a noite toda ali acordado ao seu lado, qualquer sinal de melhora. E ao nascer do sol, finalmente o corpo dela cedera, e ela morreu ali.

Quando se deu conta, num ato desesperado aproximou-se do corpo dela, e sacudiu-o firmemente, gritando que ela precisava abrir os olhos, que ele precisava vê-los novamente, que ela não podia deixá-lo sozinho, que era injusto demais.

Ele falhara, talvez se tivesse corrido mais, se esforçado mais, talvez se não tivesse sido hipnotizado pela beleza daquelas flores, talvez tivesse chegado a tempo de salvá-la.

E gritou, urrou de sofrimento, de tristeza amarga, abraçado ao corpo dela. Debateu-se, era inútil.

Abriu os olhos assustado, não sabia onde estava. Olhou ao seu redor, ainda perdido e suado, e aos poucos foi reconhecendo aquele cômodo. Ainda estava no apartamento, e ao seu lado ela dormia tranqüila, era apenas um sonho, um sonho ruim. Abraçou-a devagar, e quando as suas batidas cardíacas normalizaram-se, finalmente voltou a dormir.



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Comentários:

Tenho uma teoria sobre o significado da busca infrutífera do protagonista. Acredito que a mulher que ele tão desesperadamente tentava curar já estava "partindo" no instante em que a deixou repousando na cama da cabana, e que enquanto ele enfrentava tudo aquilo, de alguma forma misteriosa ela ia preparando todo o caminho pelo qual ele iria passar, espalhando um pouco de sua própria beleza, para sua busca não ser em vão. Ele acaba se sentindo tão atraído pelas flores, e pela beleza de tudo porque ali estava parte da beleza de sua amada, q o presenteava uma última vez com um pouco de si mesma, espalhando-se pela floresta. Mas, resta um enigma no sonho, que talvez possa servir como matéria-prima para um próximo texto: qual era o sonho que ele sonhava dentro do sonho, que lhe indicou o caminho da cura? Fiquei bastante curioso pra saber qual era quando o li pela 2ª vez. É algo a se pensar. Contos podem ser mais "perigosos" que longas histórias, pelas sementes que vão lançando pelo caminho, quase aleatoriamente. 


Rodrigo Ferreira | 11-06-2008 17:38:17