domingo, 2 de agosto de 2009

Quando?

Quando?

Cloudy day by ninja 4God


Passara horas sentado sobre a cama olhando a janela e o dia nublado lá fora, foi assim que trouxera pra si o nublado. E isso o assustava.

Quando? perguntava-se. Quando? Quando algo seria grande o bastante pra mudar tudo? Será que algum dia só apareceria um monstro enorme e engoliria tudo? Será que só iria não acordar
um dia sem nem ao menos ter tido chance de ver as coisas mudarem?
Queria vomitar-se todo, vomitar toda a tristeza e o desespero que engolira ano após ano, dia após dia, queria virar-se do aveso, tirar de si toda aquela massa enorme que ocupara seu
corpo por dentro e mal o deixava respirar ou olhar-se no espelho.

Por isso sentara-se diante da janela, porque estava cansado demais de tudo aquilo que o cercava, de si mesmo, cansado de pensar numa forma de mudar tudo, de fazer com que as coisas fizessem sentido, e durante alguns segundos desejara que algo grande, enorme acontecesse, uma explosão, qualquer coisa... Desde que a partir daquele exato instante tudo passasse a ser diferente, melhor.

Sabia que nada daquilo aconteceria, mas seu desespero e angústia era tanto, que optou por ter um pedacinho que fosse de otimismo e fé. Não havia muito a se fazer, ninguém acorda e de um dia pro outro passa a ser uma pessoa melhor, não é dessa forma que a vida funciona. E conformou-se por hora.

Quando seria diferente ele não sabia, sabia que não teria a eternidade toda pra mudar tudo e mudar a si mesmo, mas por enquanto apenas olhar aquela janela e o nublado lá fora lhe
era o bastante.

'Quem sabe no dia seguinte', pensou. 'Quem sabe amanhã o dia amanheça repleto de sol, e eu só me encharque na luz dele, e finalmente consiga brilhar de verdade a ponto de cegar os
demônios que vivem em mim'.

terça-feira, 7 de julho de 2009

A sonhadora

A sonhadora

Foto por Renan Balatori

Duas garrafas de vinho, uma pilha de latinhas de cerveja, dois maços de mentolados e a mente aberta a ponto de caber todo o céu, e a lua, as estrelas... O universo todo em mente, e ao mesmo tempo nada, era exatamente assim que ele se sentia, viajando por entre o tudo e o nada, caminhando na tênue linha que dividia o sonho da realidade.

Sentado de qualquer jeito na calçada, observando a vida passar ao seu redor, ele era exatamente assim. Barba por fazer, cabelos despenteados, cigarro entre os dedos, calças velhas e um tênis surrado, e os amigos pra conversar. Tinha o mundo todo ali ao seu redor, e não precisava de mais nada.

Foi quando a avistou, ali tão perto e tão longe, olhando a lua, sonhadora.

E amou-a, cada pedacinho dela, apaixonou-se pelo olhar distante dela em direção a lua, pelo sentimento que despertava nele.

Acendeu outro mentolado, e tragou devagarzinho, sem tirar um só instante os olhos daquela visão perfeita. E então se deu conta de que precisava eternizar aquilo, que não suportaria a idéia de esquecer um só detalhe que fosse daquela visão divina.

Era isso, ela era sua deusa, admirando a lua, ali pertinho dele. Dando sentido a noite toda, preenchendo o coração dele, a mente.

Tirou o celular do bolso, e eternizou-a, a fez real, viva, naquele exato instante ela deixou de ser apenas um pedaço de papel, uma mera propaganda em outdoor pra tornar o reflexo do sonhador que vivia no coração dele. Ela era ele, e ele era ela.




domingo, 28 de junho de 2009

Novo mundo

Novo Mundo


The colors of the wind by ~drudyva


Perdera a noção do tempo, não sabia sequer que dia da semana era, ou do mês. Dormia e acordava em horários desregulados, e graças a isso nunca sabia que horas eram e nem mesmo fazia questão de olhar para os relógios.

Evitava os espelhos na esperança de aos poucos esquecer do próprio rosto e poder inventar um novo em sua imaginação. Não cozinhava e nem penteava os cabelos, abandonara os sapatos, e passava a tarde toda sentada em frente a tela do computador descabelada tomando café, tentando encontrar algo que nem mesmo sabia o que era.

Passava dias com a janela fechada e não via mais a luz do sol. Abrir a porta do quarto e encarar o 'lá fora' era quase um martírio. As vezes falava algo em voz alta, só pra lembrar ou saber se a própria voz ainda estava lá. Era amiga de si mesma, e só isso lhe bastava pois tinha medo das outras pessoas.

Voava longe em pensamento pra lugares que talvez nunca veria, sonhava com coisas que sabe-se lá se realmente um dia faria. Perdia-se em páginas de livros, em cenas de filmes preto e branco, e lá era rainha, lá podia tudo e era feliz.

E um dia, finalmente, com muita cola, tinta, lápis de cor, giz de cera, gravuras e páginas de livros, palavras favoritas fez um mundo só dela e mudou-se pra lá. Um mundo onde não precisava de sapatos, ou pentes, ou relógios. Um mundo em que as janelas estavam sempre abertas, durante o dia e a noite toda.

Já não tinha mais medo do 'lá fora' e a idéia de se olhar no espelho já não causava mais calafrios. Havia se encontrado, encontrado a sua melhor parte e se apaixonara perdidamente por ela. E a partir daquele instante tudo era possível.



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Comentários:


Salve taty ... até que enfim novo post :) Legals pacas. Abraçu 

fred | 02-07-2009 01:23:45 
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Putz! Obrigada por ainda passar por aqui... vou tentar manter atualizado sempre! :) Abração. 

Tati | 02-07-2009 11:01:18