Folhas ao vento
Colours of the Wind por Andrew Hunter |
Apagou inquieta mais uma vez, rabiscou
o papel irritada. Não, não e não, estava tudo errado, ela sabia. Como poderia
escrever algo decente se não sabia nem ao certo por onde começar, sobre o que
falar. Talvez não tivesse nada a dizer, era apenas uma poetisa fracassada.
Suspirou. 'Bons tempos aqueles em que
as palavras pareciam transbordar de meu peito rumo as minhas mãos. Doidas por
atenção, querendo ser escritas a qualquer custo. Bons tempos'. Suspirou.
Caminhou inquieta pelo quarto, andou
durante muitos minutos em intermináveis círculos imperfeitos. Por fim,
sentou-se na cama, e após dias, abriu a janela.
Logo de início foi cegada pela luz,
não tinha ideia de que já era manhã.
Era uma linda manhã na Terra do Pra
Sempre. Os habitantes da aldeia onde morava a poetisa sorriam sem parar, e
andavam de um lado para o outro cumprindo orgulhosamente suas tarefas
cotidianas, saudando os amigos, parando vez ou outra pra um dedinho de prosa.
O sol iluminava fortemente os
Eucaliptos, e o vento da manhã fazia-os dançar de forma sincronizadamente
perfeita. Quisera eu ser uma folha ao vento, pensou a poetisa.
Não demorou muito pra
que notasse o imenso arco-íris feito de borboletas de todas
as cores que existiam. E a magia dos beija-flores, bem como o perfume das
flores, o orvalho no capim, o cheiro de pãozinho pronto, o aroma do café, a
vida se fazendo em cada milésimo de segundo diante de seus olhos. As
pessoas felizes, construindo o seu agora e seu futuro.
Olhou mais uma vez pro pedaço
rabiscado de papel. Olhou pra janela.
Pros diabos o papel, a poesia, vou lá
pra fora viver, pensou ela. E saiu em direção a porta, abriu um enorme sorriso,
cumprimentou os amigos, e ficou brincando de ser folha ao vento.
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