sábado, 20 de outubro de 2012

Folhas ao vento

Folhas ao vento

Colours of the Wind por Andrew Hunter


Apagou inquieta mais uma vez, rabiscou o papel irritada. Não, não e não, estava tudo errado, ela sabia. Como poderia escrever algo decente se não sabia nem ao certo por onde começar, sobre o que falar. Talvez não tivesse nada a dizer, era apenas uma poetisa fracassada.

Suspirou. 'Bons tempos aqueles em que as palavras pareciam transbordar de meu peito rumo as minhas mãos. Doidas por atenção, querendo ser escritas a qualquer custo. Bons tempos'. Suspirou.

Caminhou inquieta pelo quarto, andou durante muitos minutos em intermináveis círculos imperfeitos. Por fim, sentou-se na cama, e após dias, abriu a janela.

Logo de início foi cegada pela luz, não tinha ideia de que já era manhã.

Era uma linda manhã na Terra do Pra Sempre. Os habitantes da aldeia onde morava a poetisa sorriam sem parar, e andavam de um lado para o outro cumprindo orgulhosamente suas tarefas cotidianas, saudando os amigos, parando vez ou outra pra um dedinho de prosa.

O sol iluminava fortemente os Eucaliptos, e o vento da manhã fazia-os dançar de forma sincronizadamente perfeita. Quisera eu ser uma folha ao vento, pensou a poetisa.

Não demorou muito pra que notasse o imenso arco-íris feito de borboletas de todas as cores que existiam. E a magia dos beija-flores, bem como o perfume das flores, o orvalho no capim, o cheiro de pãozinho pronto, o aroma do café, a vida se fazendo em cada milésimo de segundo diante de seus olhos. As pessoas felizes, construindo o seu agora e seu futuro.

Olhou mais uma vez pro pedaço rabiscado de papel. Olhou pra janela.

Pros diabos o papel, a poesia, vou lá pra fora viver, pensou ela. E saiu em direção a porta, abriu um enorme sorriso, cumprimentou os amigos, e ficou brincando de ser folha ao vento. 

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